Durante os dias que antecederam a passagem do ano novo, ocorreram chuvas em algumas partes da Paraíba e, suponho, trouxeram alento e esperança para muita gente. Cabaceiras e Arara, onde a chuva tem o costume de passar longe, na época a pluviosidade foi além do veranico.
Observando agora estas chuvas de março, recordo passagens dos romances de José Lins do Rego quando ele aborda a vida de sua gente e as paisagens da várzea do Rio Paraíba, descritas com suavidade poética, das muitas que nos deixou, contendo a alma do povo. As cheias do Paraíba andam conosco depois da leitura de “Menino de Engenho”.
Nos seus romances, nos deixou diálogos com elementos sociológicos, de alto nível psicológico e com linguagem de valor estético que representam o emoção do homem do campo, daquele que está agarrado à terra, dessa gente que sente a presença da chuva nos sinais do céu. Um tantinho de chuva fecunda a sua alegria. Basta uma florzinha na beira da estrada para que a terra se transforme em coisa bonita.
Os sinais de chuvas observados no final de ano apontaram esperanças no homem do campo, confirmando os prognósticos de que o ano será de fartura por lá. As chuvas de agora confirmam aos prognósticos. Fizeram-me lembrar de meu tempo de caboclo do mato quando acompanhava meu pai nas experiências climáticas e no preparo do roçado.
Como a paisagem das capoeiras, serrados e planícies mudou bastante nestas cinco décadas, do tempo quando fazíamos as experiências de previsão de chuva, dificilmente os presságios se realizam como previstos. Sabe-se que o desmatamento é responsável pela redução das chuvas, situação que no semiárido se agravou ainda mais do que na região abrejada e no litoral.
Sem as árvores, os dias ficam mais quentes e as tardes mais compridas, tristes, parecendo que o vento afasta-se apressado do Litoral, passa desembestado pelo Brejo, cortando as cordilheiras da Serra da Borborema, chega ao Cariri e segue com destino ao Sertão.
O questionamento é sobre o que vem sendo feito para recuperar as áreas degradas, melhorar as regiões destruídas ao golpe da foice. O desmatamento foi patrocinado pelo poder público, principalmente quando incentivou a pecuária e a expansão da cana-de-açúcar em áreas apropriadas para outras culturas.
Olhando a devastada vegetação do Sertão e do Brejo, até chegar ao Litoral, sem os pés de paus de outrora, a gente sente um desgosto. Sem as árvores, as chuvas se encantam. O homem deveria estar misturado com a natureza, entendê-la e vivê-la, mas atua pelo contrário. Deveria nunca assassinar a natureza, mas amá-la e fazê-la procriar. Somente assim poderia viver bem.
A barra de chuva que presenciamos nos dias posteriores ao Natal, chegaram em abundância, e, com a terra úmida, plantaremos nossos roçados, nem que seja um espojadouro, mas que faça rebrotar as esperanças de outrora.