No gigantesco poema que é A Catedral de Colônia, o imenso poeta que é o Affonso Romano de Sant´Anna - com todos os seus efes e enes - diz ...

Aqui se ouve a melhor música

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No gigantesco poema que é A Catedral de Colônia, o imenso poeta que é o Affonso Romano de Sant´Anna - com todos os seus efes e enes - diz ser natural que no país de catedral tão magnífica, florescessem pensadores como Nietzsche, Kant, Heidegger, Schopenhauer. "Mas eu queria/ era ver/ o nada / nascer /do nada". "Queria ver/ era ali/ no Catolé do Rocha e Nanuque".

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Paulo Américo Maia Acervo pessoal
Bem: o Dr. Paulo Maia de Vasconcelos é de Catolé, 1930. Como é, também, o Chico César. Conheci o doutor quando Kaplan ficou paraplégico por conta da siringomielia (que acabaria por matá-lo) e me disse que queria muito ir, nas manhãs de sábado, como fizera durante anos, à casa do amigo pra ouvir música erudita. Fiz-lhe o gosto. Passava na casa dele, punha-o no assento de passageiro, desarmava a cadeira de rodas, que botava no porta-malas e lá íamos à casa do seu amigo, cujo estúdio envidraçado dava para o mar.

O ambiente era magnífico: lá estavam o ex-governador Tarcísio Buriti com as partituras do que iríamos ver e ouvir, o jornalista Luiz Carlos de Sousa - que cantara, quando jovem, na cantata que eu e o Kaplan criáramos em 79; o baixista Hector Rossi, o violinista Yerko Pinto, a mesa com bebidas segundo o paladar de cada um, e é claro que eu não via naquilo nenhum sacrifício: a gente é para o que nasce: quando jovem, aquele dia deles era o meu domingo, em que eu ia uma vez por mês aos Concertos Matinais Mercedes-Benz, no Teatro Municipal de São Paulo e, quando não estava lá, dizia pro meu pai que ia à missa da catedral de Sorocaba e emburacava no Clube União Recreativo, ao lado, onde havia uma TV ( que em casa não tínhamos) e via o programa, sem problemas.

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José Alberto Kaplan Acervo pessoal
"Aqui - dizia o Dr. Paulo, eufórico - se ouve a melhor música do mundo!" E ouvíamos, mesmo. Com os comentários geniais que teriam - com tais pessoas - de acontecer. E, como as duas maiores paixões do Dr. Paulo eram Rachmaninoff e Brahms, pintei os retratos dos dois e ele os entronizou em uma das paredes da sala.

Mas Kaplan acabou por se sentir incomodado por me ver levá-lo nos braços escada acima, quando chegávamos lá, até a sala de visitas do grande advogado e, em seguida, escada abaixo, até o estúdio de música e, por isso, passamos a ter os encontros na casa dele, no Bairro dos Estados. Até que - por fim - fui, um dia, ao hospital Samaritano, dei com ele na maca, máscara de oxigênio, dizendo-me "Solha, vou morrer!". E eu: "Diga-me uma novidade, pois também vou". "Mas vou morrer hoje", enfatizou. E o vi ser levado por enfermeiros... pela última vez.

Nunca mais - sem qualquer conversa entabulada a respeito - fui à casa do Dr. Paulo. Mas se pudesse, eu levaria para lá o Affonso, para que o conhecesse. Alguém aí é de Nanuque?

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