Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelos fundamentos e segredos que os cristais do seu ensaio traziam à rudeza de minha percepção , ponho-me agora a correr atrás de Chesterton. Impressionou-me a veemência da confissão. Como poderei bicar esse escritor e pensador de tamanha influência?
Fui lá, virei três ou quatro páginas e veio o sono do almoço. Não deve ter vindo da leitura, mas de mim mesmo, olhando há mais de cinqüenta anos para os mesmos dorsos da estante. A avidez da procura desmerece, e até a cadeira já não parece tão confortável quanto achava o freguês de Henrique da Pernambucana, vizinho da Agência Nova, livraria dos irmãos Macedo, única com suprimento para as esquerdas.
E procuro em que desparecer. Abro a gaveta de baixo, atrás de um radiosinho velho e avisto uma foto emborcada e amarelecida. Duvido que deixemos uma foto à margem da nossa curiosidade. Quanto mais velha e desprezada mais apetecida. E quem me aparece?
Não só me aparece como me arrasta a seu núcleo ou a seu tempo. Alguém está fumando perto, o cheiro é forte. Ou vindo para perto do antigo viciado, adentrando nos doze metros de minha tenda.
O que havia de passar, passou. As gravatas e os paletós solenes já não têm a quem vestir, todos ou quase todos foram recolhidos, mas deixando no olhar, que é luz do espírito, o seu momento.
“ Acenda a luz, o que é que você está vendo no escuro?!” – é a patroa reclamando uma falta de luz que eu não havia notado.