as cigarras
são guitarras trágicas. plugam-se/se/se/se nas árvores em dós sustenidos. kipling recitam a plenos pulmões. gargarejam vidros moídos. o cristal dos verões poeta X poema
nem sempre o poeta ronda o poema como uma fera a presa. às vezes, fera presa e acuada entre as grades do poema-jaula, doma-o o chicote das palavras. o elefante a João de Farias Pimentel Neto (Netinho)
a cor de pólvora que não explode barril de pólvora mansa apesar do pavio da tromba a coruja
são todo ouvidos os teus olhos de vigília. olhos acesos luzeiros de sabedoria. olhos atentos à geografia do dentro, és uma concha. um encorujado caramujo. monja em voto de silêncio. a zebra a Manoel Jaime Xavier Filho e Silvino Espínola
a zebra é a edição extra de um cavalo que virou notícia do leão, a juba
sol de pelos ao redor da cabeça, a fulva juba flameja: estrela de primeiríssima grandeza! a girafa (II)
a girafa é girassol, a girafa é de lua, não gira bem. é top model, é audrey hepburn, olhem o pescoço que a girafa tem! a girafa (IV)
da terra antípoda, és um gajeiro que só nuvens avista. sarapintado mastro de uma nau à deriva. a girafa (V)
mastro de um circo a céu aberto, sem empanada. aéreo caniço pensante do nada. a garça
na tarde gris, a garça encolhe a perna: ariano saci entre vitórias-régias? a araponga A Sergio Faraco
carcereira, abre a lingueta da garganta e aperta-me o cerco: o canto que a liberta dos ferros me faz prisioneiro. andorinha, andorinha À Maria Carolina, filha caçula
a andorinha anda breve e mínima, tão confusa e cheia de ser fusa ou semicolcheia na pauta dos fios de eletricidade, que já chilreia em alta voltagem. os pardais
os pardais são me(l)ros vira-latas de asas fuçando os quintais o pavão
são tantos olhos abertos sobre a cauda polvilhados que em leque entreaberto há sempre quem o enxergue qual um indiscreto voyeur em um narciso disfarçado noturnos c) nenhuma ovelha pula a cerca de minha insônia. abato a todas. e quanto à lã, serve de enchimento para o travesseiro. serve - a cada manhã – para travestir-me de cordeiro.
são guitarras trágicas. plugam-se/se/se/se nas árvores em dós sustenidos. kipling recitam a plenos pulmões. gargarejam vidros moídos. o cristal dos verões poeta X poema
nem sempre o poeta ronda o poema como uma fera a presa. às vezes, fera presa e acuada entre as grades do poema-jaula, doma-o o chicote das palavras. o elefante a João de Farias Pimentel Neto (Netinho)
a cor de pólvora que não explode barril de pólvora mansa apesar do pavio da tromba a coruja
são todo ouvidos os teus olhos de vigília. olhos acesos luzeiros de sabedoria. olhos atentos à geografia do dentro, és uma concha. um encorujado caramujo. monja em voto de silêncio. a zebra a Manoel Jaime Xavier Filho e Silvino Espínola
a zebra é a edição extra de um cavalo que virou notícia do leão, a juba
sol de pelos ao redor da cabeça, a fulva juba flameja: estrela de primeiríssima grandeza! a girafa (II)
a girafa é girassol, a girafa é de lua, não gira bem. é top model, é audrey hepburn, olhem o pescoço que a girafa tem! a girafa (IV)
da terra antípoda, és um gajeiro que só nuvens avista. sarapintado mastro de uma nau à deriva. a girafa (V)
mastro de um circo a céu aberto, sem empanada. aéreo caniço pensante do nada. a garça
na tarde gris, a garça encolhe a perna: ariano saci entre vitórias-régias? a araponga A Sergio Faraco
carcereira, abre a lingueta da garganta e aperta-me o cerco: o canto que a liberta dos ferros me faz prisioneiro. andorinha, andorinha À Maria Carolina, filha caçula
a andorinha anda breve e mínima, tão confusa e cheia de ser fusa ou semicolcheia na pauta dos fios de eletricidade, que já chilreia em alta voltagem. os pardais
os pardais são me(l)ros vira-latas de asas fuçando os quintais o pavão
são tantos olhos abertos sobre a cauda polvilhados que em leque entreaberto há sempre quem o enxergue qual um indiscreto voyeur em um narciso disfarçado noturnos c) nenhuma ovelha pula a cerca de minha insônia. abato a todas. e quanto à lã, serve de enchimento para o travesseiro. serve - a cada manhã – para travestir-me de cordeiro.
*Poemas do livro "Zoo imaginário", que atingiu a maioridade: 16 anos do seu lançamento (2005). O Zoo é ilustrado pelo artista plástico paraibano Flávio Tavares, recebeu o prêmio Guilherme de Almeida, Melhor Livro do Ano (2005), outorgado pela União Brasileira de Escritores. Foi adotado nas escolas públicas de 1º e 2º graus do estado de São Paulo, através do programa Lendo e Aprendendo. Em 2009, por iniciativa do Ministério da Educação, teve uma tiragem de 25 mil exemplares, passando a integrar o acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola. No mesmo ano, a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PB) também o adotou - no ano cultural Sérgio de Castro Pinto - para ser lido e analisado por professores e alunos das escolas públicas da capital paraibana.