É dura a vida, no Brasil, de escritores que vivem e produzem fora do eixo Rio-São Paulo. No resto do mundo imagino que deva ser a mesma ...

Voando alto

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É dura a vida, no Brasil, de escritores que vivem e produzem fora do eixo Rio-São Paulo. No resto do mundo imagino que deva ser a mesma coisa, a mesma dificuldade de conseguir um editor importante e a necessária divulgação, aquela que pode tornar o autor conhecido, se não pelo grande público, ao menos pelo grupo mais restrito dos leitores contumazes. Deve ser dura também a vida dos que escrevem e vivem no Rio e em São Paulo, mas que ainda são anônimos e/ou inéditos, já que não é fácil, em nenhum lugar, obter reconhecimento.

Outro dia, conversava com um amigo sobre o quanto teria sido diferente o destino de Augusto dos Anjos se ele tivesse permanecido entre nós. Provavelmente, teria continuado como professor do Liceu e certamente publicado o “Eu” por aqui mesmo, talvez obtendo aprovação da crítica e do público locais, mas sem ultrapassar, em termos de projeção mais ampla, as fronteiras da aldeia. É possível que tivesse sido assim.

“A bagaceira”, de José Américo, só repercutiu nacionalmente porque o livro do paraibano chegou às mãos de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), o grande crítico literário da época, que soube identificar, no volume mal impresso, o valor da obra pioneira e do escritor estreante. Novamente podemos especular sobre o destino do livro e do autor se tivessem ficado restritos à província, mesmo com todas as glórias tabajaras.

O que teria sido também da poeta Adélia Prado, mineira de Divinópolis, onde vive até hoje, se não tivesse enviado seus poemas para o conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, que, encantado com a inédita produção daquela dona de casa, apadrinhou-a, divulgou-a e abriu-lhe as portas, junto aos editores e críticos de prestígio, para a merecida acolhida e fama junto ao grande público.

E assim com muitos outros, pelo Brasil afora. Graciliano Ramos talvez não tivesse aparecido se o poeta e editor Augusto Frederico Schmidt não o tivesse descoberto como autor de bem escritos relatórios municipais de Palmeira dos Índios e publicado “Caetés” em sua editora do Rio de Janeiro.

Daí a importância dos concursos literários, principalmente para os escritores que não dispõem de outro acesso ao reconhecimento público de seu valor. E esse tem sido o caminho trilhado por tantos que, de outro modo, teriam talvez permanecido incógnitos nacionalmente. Esse o caminho seguido por nossos autores de maior evidência externa atualmente: um W. J. Solha, uma Maria Valéria Resende, um Sérgio de Castro Pinto, uma Marília Arnaud, entre outros que agora não lembro, todos premiados e aplaudidos. Nosso Hildeberto Barbosa Filho, certamente por opção pessoal, vem alcançando estatura nacional, como poeta e crítico, através de outras veredas, igualmente eficazes.

Marília Arnaud, autora já reconhecida entre nós, obteve agora o Prêmio Kindle de Literatura, promovido pelo site Amazon, a editora Record e a TAG Experiências Literárias. Seu livro premiado, “O pássaro secreto”, concorreu com mais de 2.400 obras inéditas de autores brasileiros, o que demonstra o mérito de sua conquista.

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Não é a primeira vez que Marília é premiada, mas não há dúvida de que esta recente premiação firma o seu nome no cenário das letras nacionais, o que é e deve ser motivo de orgulho para os paraibanos de boa-fé.

Daqui rendo minhas homenagens a essa valorosa conterrânea, que, discretamente, nas asas de seu “pássaro”, voa cada vez mais alto.

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  1. Parabéns👏👏👏👏👏👏👏👏👏
    Francisco Gil Messias..brilhante texto ...que enaltece uma conterrânea em especial e, menciona outros em suas oportunidades/ momentos e eteceteraetal...
    Paulo Roberto Rocha

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  2. Em 2012 vi uma entrevista de Affonso Romano de Sant´Anna , em que ele disse que nossas grandes editoras estavam sendo vendidas a similares estrangeiras e que essas não queriam autor brasileiro nem pintado, limitando-se a trazer grandes sucessos promovidos por grandes prêmios internacionais como o Nobel, Pulitzer e assemelhados, romances com filmes ganhadores do Oscar ou Cannes, etc, etc. Mas não é só isso. Vi, mais recentemente, entrevista de Nélida Piñon, em que ela mostrava a diferença de tratamento de autores da América Espanhola por Madri e dos brasileiros por Lisboa – o caminho das pedras seguido por um Gabriel García Márquez, um Cortázar, Borges, Unamuno, Roa Bastos, que nós não temos, o que foi involuntariamente confirmado por um amigo autoexilado em Portugal há vários anos, quando me noticiou que iria lançar novo livro em São Paulo. “Oi – eu disse - , e não seria melhor lançá-lo aí, depois aqui , com a repercussão vinda de fora?” E ele: “Portugal lança obras de autores de língua portuguesa de qualquer parte, menos do Brasil”. Na verdade isto aqui nunca foi fácil. Meu primeiro romance – Israel Rêmora – foi Prêmio Fernando Chinaglia, com direito a lançamento pela Record, do Rio. Como você disse, Gil Messias, os prêmios são praticamente os únicos instrumentos de divulgação do autor nacional, mas insuficientes. E esse meu livro teve boa fortuna crítica nos grandes jornais – Estadão, Jornal do Brasil, O Globo, Folha, Suplemento de Minas – mas quando tentei colocar A Canga, ouvi um “Nem pensar! Ainda temos seu outro livro no estoque!” Meu terceiro romance, A Verdadeira Estória de Jesus foi lançado pela Ática, de São Paulo. Quando acompanhei o José Bezerra Filho e a mulher até o Beneficência Portuguesa, de lá, para uma operação, dele, de aneurisma cerebral, aproveitei a espera de uma semana para que isso acontecesse, pra sondar a presença da nova obra nas grandes livrarias paulistas. Não a vi em nenhuma, nem qualquer dos livros da série Autores Brasileiros, a que ele pertencia, com o número 46. Em 88 ganhei o Prêmio do Instituto Nacional do Livro, em Brasília com A Batalha de Oliveiros. Parte do prêmio era a distribuição de mil volumes pelas bibliotecas nacionais. Coincidiu que fui palestrante delas em Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Salvador e... nenhuma tinha recebido meu romance. Aí fui finalista do Jabuti com História Universal da Angústia, ganhei o prêmio da União Brasileira de Escritores do Rio com o volume, que saiu pela Bertrand Brasil, do grupo Record e se deu que algum tempo depois perguntei se poderia lhes remeter os originais do Arkáditch, e a resposta foi um redondo Não. Com Relato de Prócula ganhei o prêmio de incentivo à Literatura, da Funarte, e, depois, o João Fagundes de Menezes, mas A Girafa quebrou, o estoque foi transferido para a Escrituras, lote que acabei comprando a preço de banana. Meus poemas longos – “tratados poético-filosóficos” – foram todos publicados de meu bolso, com distribuição a quem os quisesse ler, como esse último – também finalista do Jabuti do ano passado.
    Nada disso, no entanto, vale, em se tratando de Marília Arnaud. Como não vale para Maria Valéria Rezende, que já é uma das grandes damas da literatura nacional. Seus temas e estilos são outros, sua época é outra. E claro que meu modo de ser nunca me ajudou em nada. Nem os temas que abordo, bastante desconfortáveis para a imensa maioria. Nem o fato de ter dedicado tanto tempo a outras artes, como a pintura, o teatro e o cinema. A vantagem é que a idade já está me apontando a solução para tanto barulho por nada. E é pena se os livros não alcançaram público, mas tiveram, pelo menos, o dom de me aquietar em minhas principais questões.

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  3. É uma pena que seja assim, como você tão bem relatou acima, Solha. De qualquer modo, sua obra vem sendo feita - e bem premiada, o que reconforta. Para um artista completo como você, acredito que o mais importante é produzir, aquietando-se, como você disse. Vamos perseverar. Vale a pena. Obrigado pelo comentário.

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