É muito comum se estigmatizar a figura do boêmio. A primeira imagem é a de alguém que leva um estilo de vida voltado para a farra, vagando pelos bares, aproveitando ao máximo os prazeres da noite. Pejorativamente procura-se classificar a boemia como comportamento de vadiagem. Talvez porque os espaços frequentados pelos boêmios sejam, de certa forma, considerados locais onde as pessoas se libertam da obrigação de estar rigorosamente enquadrados ao que definem as regras sociais.
Não é bem assim. A vida boêmia promove a construção socio-cultural de qualquer cidade. Os seus pontos de encontro, oferecem a oportunidade democrática de convivência dos mais diversos segmentos da sociedade. Neles promovem-se animados batepapos em que tudo se discute. As mesas de bares ou restaurantes, são locais onde se debatem política, cultura, filosofia, futebol. Seus frequentadores, os chamados boêmios, alimentam as ideias que constroem a cultura intelectual de uma comunidade, revelando talentos nas artes e na literatura.
Em João Pessoa, nos anos sessenta, as opções de lazer, principalmente à noite, eram poucas. A cidade ainda não havia se espalhado para a orla, onde hoje se concentra sua vida noturna. Os pontos de convivência social eram os bares e restaurantes do centro da cidade, à exceção do Elite Bar, em Tambaú, e o Luzeirinho, em Jaguaribe.
O “point” era, portanto, a Churrascaria Bambu, na Lagoa. Ali podíamos encontrar as mais conhecidas figuras do universo político, empresarial e intelectual de João Pessoa. Era uma frequência predominantemente masculina. Nesse tempo, dificilmente se via uma mulher em mesa de bar, sem que estivesse acompanhada do marido ou namorado. Até que fosse demolido, em 1973, a Bambu foi um dos lugares favoritos nos programas da noite ou de fins de semana. Mas também existia a “Casa dos Frios”, na Duque de Caxias, onde atualmente funciona uma agência do Bradesco e o Bar du Grego, próximo ao Cine Municipal, entre outros.
Esse era o roteiro da boemia daquela época, no bom sentido.