Otinaldo não somente liderou como impôs a presença do rádio político entre os ouvintes de todas as classes aonde chegasse a sua Arapuan. A Tabajara de grandes estrelas e espetáculos não fazia esse gênero. Tive a percepção clara disso na eleição de outubro de 1965, Agripino versus Rui dependendo das urnas finais de Piancó. Nenhum deles chegava a dois mil votos de frente. E a cidade inteira e suas vizinhanças ligadas na bolinha de cristal de Otinaldo, mesmo se sabendo das suas simpatias e as da família pelo doutor Rui.
Dois ou três anos depois, o jornal O Norte, já escalando com João Manuel, Evandro, Crispim, Nathanael, Martinho, o ápice de liderança na imprensa escrita, também recorrendo à matemática e previsões da rádio da Almirante Barroso.
Temos a imagem pública, a que todos recolhem e que José Octávio pôde perfilar em trabalho recente - a imagem do irmão associada à da Arapuan. O livro impresso há de sobreviver para isto. A mensagem continuará lavrada, para não dizer esculpida, como se diz com a gravura em pedra. Não foge à luz nem aos olhos. Não flutua como os fogos-fátuos que o meninote tentava decifrar nas noites do Cais de Alagoa Nova. Lá, para nós, cais era a balaustrada.
E o que ficou em mim, de Otinaldo, para além da vida? Ficou uma madrugada que o sol dos dias e dos muitos anos nunca varreu. Interno num sanatório, e mais isolado ainda do meio profissional e do convívio dos amigos, na onda repressiva de 1964, escrevi um bilhete para Otinaldo, com quem, desde o internamento, eu me mentinha colado pela invenção extraordinária, não menor que o Sputnik, do radinho de pilha.
O radinho de pilha que nos ligou nunca perdeu a carga. Os raios e relâmpagos da nova eletrônica jamais o superaram.