Disse, então, Maria: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim que se cumpra em mim segundo tua palavra".
Lucas, 1:38 – Bíblia de Jerusalém.
Lucas, 1:38 – Bíblia de Jerusalém.
As referências históricas a respeito de Maria de Nazaré ─ forma helenizada do nome hebraico Miriã que significa Senhora da Luz ─ são escassas e se restringem às narrativas sobre a infância do Cristo, nos evangelhos de Mateus e Lucas.
Ali aprendemos que quando foi feito o anúncio angélico do nascimento de Jesus, Maria estava vivendo em Nazaré da Galiléia, e estava noiva de um carpinteiro chamado José (Lucas 1: 26). Lucas nos informa que José era da descendência de Davi e, embora nenhuma menção seja feita sobre a linhagem de Maria, é possível que ela teria vindo da mesma linhagem, especialmente se, conforme parece provável, a genealogia de Cristo, em Lucas 3, deva ser traçada através da sua mãe.
O evangelista Lucas traça a genealogia de Jesus a partir do nome de sua mãe, Maria de Nazaré que, segundo a tradição do judaísmo, é a genitora quem transmite o nome da família aos filhos (diferentemente da tradição ocidental, na qual o nome da família é fornecido pelo genitor). A genealogia de Jesus, segundo o evangelho de Mateus focaliza José, descendente do rei Davi, ao considerar a antiga profecia de que o Messias viria da linhagem dessa tribo israelense.
Segundo outro registro de Lucas, assim que Maria se viu grávida, ela teria viajado para uma pequena cidade, nas montanhas de Judá, a fim de visitar a sua parenta Isabel que, também se encontrava grávida, mas de 6 meses, daquele que seria conhecido como João Batista, cognominado O Precursor. Quando ambas se encontraram, Maria saudou a parenta e, de imediato, Isabel foi envolvida por profunda emoção, a ponto de sentir o filho estremecer no seu ventre, fazendo com que, sob inspiração, respondesse à Maria com estas palavras:
“Bendita é tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”
Após o nascimento de Jesus em humilde estrebaria, em Belém de Judá, a família fixou residência em Nazaré, na Galileia. Pouco tempo depois, porém, e sob orientação do mesmo anjo que anunciara a concepção de Maria, a sagrada família foge para o Egito, a fim de escapar a fúria insana do rei Herodes que ordenou a morte de todas as crianças com até dois anos de idade. Com a morte de Herodes (ano 4 da nossa era), José, Maria e Jesus retornam à pequena e obscura Nazaré (Mateus, 2:23), atendendo os alertas de segurança do anjo do Senhor, pois, a despeito da morte de Herodes, ainda havia perigos, visto que o rei atual, Arquelau, era igualmente cruel.
Maria de Nazaré, a amada e sublime mãe de Jesus, é reverenciada como o exemplo de amor e dedicação, de renúncia e sacrifício.
No Espiritismo também aprendemos a reconhecer em Maria uma Entidade evoluidíssima, que já havia conquistado, há [mais de] 2000 anos, elevadas virtudes, tornando-a apta a desempenhar na crosta terrestre tão elevada missão, recebendo em seus braços o Emissário de Deus que se fez menino para se transformar “no modelo da perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra”. Além do que se conhece nas antigas tradições religiosas, especialmente no Novo Testamento, encontramos na literatura espírita outros importantes dados biográficos de Maria, que vieram até nós por via mediúnica, naturalmente extraídos de arquivos fidedignos do mundo espiritual, revelando-nos que ela continua até hoje zelando com muito carinho pela humanidade terrestre, encarnada e desencarnada.
Maria de Nazaré, por ser um Espírito portador de grandes conquistas evolutivas e virtudes, e consciente da tarefa que deveria realizar na obra do Cristo, curva-se, humilde ante os desígnios celestiais, agindo sempre com prontidão, como que repetisse, vida a fora, a resposta que deu ao anjo quando, em nome do Pai, este lhe anuncia que seria a mãe de Jesus, o Salvador: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas, 1:38).
Mesmo diante da dolorosa e indescritível dor, ao ver o filho ser perseguido e crucificado, jamais perdeu a confiança em Deus, aceitando com divina renúncia. Com a personalidade forjada sob o guante do amor maior, Maria passa a se dedicar aos sofredores, como registra Yvonne Pereira no livro Memórias de um suicida. A obra descreve a amorosa e eficiente assistência aos suicidas pela mãe de Jesus, atuando diretamente, e sobretudo, por intermédio da Legião dos Servos de Maria, organização vinculada ao Hospital Maria de Nazaré.
Em diversas outras obras espíritas encontramos referências dos orientadores espirituais à sublimidade do Espírito Maria de Nazaré e a sua dedicação aos Espíritos que sofrem, encarnados e desencarnados. Lembramos, a propósito, a reverência que o Espírito Bittencourt Sampaio faz à mãe de Jesus nesta tocante oração:
Anjo dos bons e Mãe dos pecadores,
Enquanto ruge o mal, Senhora, enquanto
Reina a sombra da angústia, abre o teu manto,
Que agasalha e consola as nossas dores.
Nos caminhos do mundo, há treva e pranto.
No infortúnio dos homens sofredores,
Volve à Terra ferida de amargores
O teu olhar imaculado e santo!
Ó Rainha dos anjos, meiga e pura,
Estende tuas mãos à desventura
E ajuda-nos, ainda, Mãe piedosa!
Conduze-nos às bênçãos do teu porto
E salva o mundo em guerra e desconforto,
Clareando-lhe a noite tormentosa...