“Estamos brincando de Deus” – foi o que nos disse, recentemente, um cientista da histopatologia, amigo nosso, ao se referir às incertezas e consequências das vacinas produzidas para nos imunizar contra o vírus corona. Em sua advertida colocação, ele leva em conta os riscos de um experimento que não dispôs do tempo necessário para mais testes de segurança, a exemplo de outros imunizantes historicamente utilizados.
A urgência crítica da situação mundial forçou a ciência a concluir o que dispunha e colocar logo no mercado os fármacos tão esperados. É sempre estranho que tais soluções tenham que ser vendidas para salvar a humanidade e entre elas haja tanta competitividade lucrativa, ainda que não exista certeza absoluta de seus benefícios, nem da isenção de efeitos adversos. Só o tempo dirá...
Citar que os cientistas estão “brincando de Deus” faz sentido. Alguns se julgam espécies raras e até duvidam de que algo os supere. Há renomados personagens deste universo do saber que sequer admitem a existência de uma força superior. Consideram-se acima dos deuses em um mundo sem Deus.
Claro que não são todos. Há muitos cientistas que reverenciam uma possível “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, sob o céu que nos protege. Para estes, que se surpreendem permanentemente com fenômenos revelados à luz de suas pesquisas, ano após ano, seja no mundo quântico ou cósmico, não há dúvida sobre a perfeição das leis naturais, da química, física, biologia, astronomia, gravitação. Percebem ou intuem que há algo no cosmo que lhes sussurra ao espírito, além da matéria.
Para os demais, o orgulho, a arrogância, o egocentrismo levam-nos a julgar a raça humana como espécie superior a qualquer outra, por seus inúmeros feitos e conquistas tecnológicas. Mesmo que estes seres postados no topo da escala evolutiva tenham causado, desde que povoaram a superfície terrestre, tanta miséria, seja através da exploração ou da estupidez de guerras e outras disputas.
É possível que a soberba lhes fomente incessante sede de descobertas pelas quais montanhas de dinheiro são gastas para tentar descobrir se há água em Marte, vida em Júpiter ou se existe, a milhões de anos-luz, um novo planeta a ser catalogado em seus célebres compêndios, apenas para lhes conferir mais fama e notoriedade. Descobertas que de nada servirão para salvar o planeta que habitam, as espécies que se extinguem, a pobreza que mata e as injustiças que maltratam.
Mas aí vem a vida e surpreende todos com mais uma lição. Do nada surge um vírus, invisível, microscópico, que rapidamente se alastra pelo mundo matando, adoecendo, alarmando, desafiando a inteligência científica, perante o qual toda a arrogância desaba. Seria Deus brincando de homem?… Estas surpresas desafiadoras como as pandemias parecem surgir ciclicamente da mesma maneira que desaparecem. Causam pavor, estragos, mas, segundo se percebe, pouco ensinam. Quando acontecem, põem à prova sentimentos, emoções, fazem-nos refletir com mais intimidade, provocam questionamentos e revisão de valores, mas, tudo indica que com o tempo sejam esquecidos e todos voltemos a ser como antes.
Lamentável é que estas provações não afetem o orgulho de muitos que continuam a se julgar no ápice da superioridade entre os seres vivos. Donos do mundo, do poder, do saber, nada é maior do que eles, mesmo que, com a sabedoria adquirida pelo privilégio do estudo e do conhecimento, estejam mais cientes do que todos de sua insignificante posição, valor e dimensão perante a imensidão cósmica infinita da qual apenas supõem imaginar. Por certo, desdenham da sapiente “ignorância” socrática.
Esta empáfia hegemônica não é de hoje. Recentemente veio a público um tal “mistério abominável” que teria amedrontado Charles Darwin, pois se confrontava com seus profícuos estudos naturalistas do século 19 e que não conseguiu desvendar. O fato amplamente noticiado em portais da internet remete a um medo de que Deus estivesse por trás do fenômeno que fragilizaria a célebre teoria evolucionista.
Para o revolucionário cientista britânico, toda a cadeia evolutiva da vida no planeta passou por etapas sucessivas, entrelaçadas de modificações, adaptações climáticas, interativas, inerentes às transformações e condições ambientais. Nada escaparia do processo investigativo que fundamentou todo seu trabalho, ainda que não unanimemente aceito pelos pares e luminares do conhecimento, seja científico ou religioso.
Exceto, as flores! Imaginem só. Estas preciosidades que desafiam a nossa emoção a nos sorrir com a perfeição e a beleza que exibem em todos os recantos do mundo, dos picos montanhosos ao fundo do mar, estariam fora da Lei de Darwin. Uma exceção instigante e inexplicável.
Tudo partiu dos estudos feitos pelo botânico escocês William Carruthers, pesquisador guardião do Museu Britânico, ao demonstrar que as plantas com flores não obedeceram à regra defendida pelo colega Darwin, de que “a Natureza não dá saltos”. Mas as flores deram. Surgiram repentinamente, estamparam o mundo com alegria colorida, harmonia da beleza, perfume delicado, sem supor que desafiariam a ciência…
A rapidez e simultaneidade com que apareceram amedrontaram os evolucionistas. Felizmente não se espalharam como os vírus endêmicos, para ameaçar a mente e padecer o corpo, e sim para nutrir a alma com a mensagem sublime que reveste tantas formosuras da Natureza. Para Carruthers, só a mão de Deus, uma força criadora soberana, acima da compreensão e dos estudos até então empreendidos, explicaria o florescimento multicor e infinitamente diversificado destes seres especiais, que nenhuma teoria era capaz de explicar.
Em vez de encantar, a evidência amedrontou Darwin. A ponto de considerá-la um “abominável mistério”. Tudo em virtude da arrogância, ao sentir que as flores lhe tirariam o brilho do ego acariciado com a admiração que a humanidade lhe dispensou. Quanto orgulho.
Orgulho que até hoje cega notáveis do saber científico, filosófico, artístico, que se julgam superiores a tudo e negam a existência de qualquer coisa acima de suas mentes empoladas. Mesmo que sejam incapazes de exterminar um simples vírus causador de surtos e pandemias que, vez por outra, castiga a humanidade, desafia a ciência e mostra que nada somos diante do que pode acontecer além de nosso controle, capacidade e compreensão.
Talvez aos doutos sábios, para quem nada se sobrepõe à concepção materialista do existir, a poesia das flores jamais será sentida ou sequer notada. Quem sabe a intuição, a inspiração, o ensimesmamento, a admiração à majestade da Natureza e da Criação Divina, ou mesmo a imagem de Deus continuam ameaçando-os tanto quanto as flores amedrontaram Darwin. Descobrir que Deus existe seria destroná-los do individualismo em que se sustentam além de qualquer coisa.
Felizmente, a ideia de uma Inteligência Suprema vem se aproximando do entendimento de físicos, astrofísicos, cosmólogos, que, quanto mais se aprofundam em pesquisas e experimentos, mais se surpreendem com a perfeição do que descobrem.
Entretanto, há de se lamentar que o explosivo aparecimento simultâneo de flores de vários tipos, cores, formas e tamanhos em todo o planeta possa ter ameaçado o sentimento egocêntrico de então, justamente por ser atribuído à origem divina. Julgar execrável o espetáculo que floresceu e cobriu o mundo de poesia foi de uma espantosa insensibilidade. Como se a sombra acolhedora de um régio poder criador se configurasse numa ameaça. Como se a existência de Deus diminuísse justamente o valor do mais privilegiado dos seres, que muito longe da perfeição, permanece incapaz de perceber que o desabrochar de uma manhã florida sob o Sol jamais seria odiável, apenas porque nos fala das coisas de Deus...