Como cidadão, tenho tido, já há algum tempo, poucos motivos para comemorar alguma medida ou decisão governamental, em todos os níveis. Isto me entristece, claro, mas não me surpreende; afinal, por nossa história, o que certamente me surpreenderia seria se fosse o contrário. Mas o fato é que , surpreendentemente, entusiasmei-me esta semana com a notícia da desapropriação, pelo governo estadual, do antigo e belo prédio do Colégio das Neves, ali ao lado de nossa Catedral Basílica. A finalidade do governo é ali instalar o “Parque Tecnológico Horizontes de Inovação”, entidade voltada para o estímulo à tecnologia, especialmente no viés da inovação.
A notícia é alvissareira por várias razões. Primeiro – e talvez principalmente, aos meus olhos – pela consequência positiva que a desapropriação certamente provocará, que é a recuperação e preservação da imponente construção, um dos ícones do nosso centro histórico, ameaçada que estava de completa degradação, após o encerramento das atividades do antigo colégio e da mais recente Faculdade de Ciências Médicas. As poucas freiras que restam ainda morando no local não dispõem de recursos para a manutenção do prédio, cujo destino fatal seria inevitavelmente deteriorar-se, como tantos outros, igualmente importantes, estão se acabando, à vista de todos, naquela região da cidade.
Depois, pela própria instalação do “Parque Tecnológico”, iniciativa que, espera-se, deverá gerar muitos frutos benéficos para a Paraíba, através do fomento à pesquisa, à criação de empresas e, consequentemente, à geração de empregos, sem falar, naturalmente, nos aspectos culturais correlatos. E mais uma coisa que não podemos esquecer: a revitalização de toda a área urbana ao redor do colégio, a qual se encherá de vida e de movimento a partir do funcionamento dessa nova entidade, com o fluxo de funcionários, pesquisadores, empresários, estudantes e público em geral num local atualmente quase morto, em termos de trânsito de pessoas.
Vê-se, portanto, só por isso, a relevância da medida governamental. Medida, diga-se de passagem, que só o Estado poderia tomar, em seu papel intransferível de zelador e promotor do interesse público, quando a iniciativa privada não se sente atraída para atuar em certas áreas. Assim, essa função estatal é fundamental, reconheça-se, principalmente nas sociedades de livre mercado, em que a presença do Estado é reduzida mas não suprimida, já que nem tudo os particulares podem fazer, seja por falta de recursos ou de simples interesse.
Esse salutar exemplo deveria ser repetido pelo governador relativamente a outros prédios importantes do centro da capital, inclusive o do antigo IPASE, ali no coração da urbe, há décadas ostentando um degradante espetáculo de abandono e de descaso administrativo das autoridades competentes. Sabe-se que o referido edifício pertence ao Ministério da Previdência, mas nada impede que o governo estadual faça gestões no sentido de assumi-lo, para dar-lhe uma destinação digna, livrando o Ministério de um bem que não lhe serve para nada e, ao mesmo tempo, recuperando a dignidade urbana do nosso Ponto de Cem Réis, de resto já tão maltratado.
Que o exemplo também sirva ao prefeito recentemente empossado. Ele pode fazer muito nesse sentido, contribuindo para a recuperação de edificações históricas e injetando vida no Centro e no Varadouro, áreas que, sem a ação decisiva dos poderes públicos, estão condenadas cada vez mais à degradação, com prejuízo para a cidade como um todo.
Outros pessoenses preocupados com a aldeia estão vibrando com essa decisão do governo estadual. Isso é bom. Precisamos disso com mais frequência. Nossa autoestima de aldeãos ( e de brasileiros) anda em baixa. Comemoremos, pois.