A terra batida surge margeada por canteiros de onde se espalham pés de meio mundo de matos e plantas e flores, espinhentos e secos ou ...

Ser tão entre Sol e Lua

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A terra batida surge margeada por canteiros de onde se espalham pés de meio mundo de matos e plantas e flores, espinhentos e secos ou meio verdes em pleno início de verão, por vezes de sombras e até milagreiros, afora os pequenos aclives e pedras plásticas em monumentais esculturas, pinceladas ao longe por montanhas de suavidade crua. A terra, as pedras e a vegetação enfeitam os olhos de um lado e de outro da estrada irregular. No encontro do ocaso do Sol com o esplendor lunar ou o contrário da madrugada de onde se inicia um novo dia, o Sertão ganha ares de telas pintadas por mãos divinas. É hora de sentir o vento no rosto e liberar o espírito.

E a visão é mágica. Tintas misturadas em tons alaranjados, vermelhos, brancos e azuis que vão escurecendo até o quase preto e por fim o lençol prata que cobre o mundão. Será noite de Lua cheia.

O cenário parece não ter fim por entre xique-xiques, mandacarus, umbuzeiros, juazeiros e uma infinidade de vegetais símbolos da região. Riqueza na secura, fartura disfarçada de escassez. Sobram visões e sentimentos.

Ser tão distante atraído pelo Sertão. Ser de outras paragens, mas ser tão sentimento de pertencer em parte dali, recém-chegado, capturado, meio que algo vindo do ventre da mãe, da mão terra. Seja nas andanças pelos sertões vizinhos das terras de Alagoas/Sergipe, reveladas pelo velho São Francisco a traçar um corte profundo de faca cheio de água a percorrer as terras sertanejas. E ali encarar a vegetação da caatinga, suas trilhas, geografias, curvas de incertezas e destinos.

E penetrar pela Paraíba até chegar a "Pedra achatada branca", que na língua da nação Tupi é Itapetim, Pernambuco, terra dos grandes poetas repentistas, como Otacílio Batista e seus irmãos Dimas e Louro, grudadinha a Teixeira e as outras cidades paraibanas. Mistura de recantos, gentes e histórias.

A conquista da alma pela região já vem de muito pelas conversas dos amigos de sempre e de outras eras e de muitos sertões. É sentir os cheiros e as vozes do sangue sertanejo cheio de orgulho nos relatos de Nara Valusca e da sua Catolé do Rocha. E em outras épocas maravilhar-se com as aventuras nos relatos do saudoso Adelson Barbosa e sua Patos com cores de interior e suas políticas.

Aquilo tudo estava ali desde os escritos de Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos e muito mais ainda nas vivências divididas em histórias literárias de Ariano Suassuna. Do mesmo modo nas notas musicais de Chico César, Zé Ramalho e Luiz Gonzaga. Nas fotografias poéticas/cronistas de toda a Paraíba pelas lentes de Antonio David a retratar caras, cenas e lugares.

O Sertão precisa ser tocado com a própria alma, com as mãos e coração. É preciso permitir que o Sertão toque a nossa alma, nossas mãos e nosso coração. Fundamental sentir o sertanejo e reconhecê-lo, observá-lo, esse ser tão gigante, solidário e forjado de muitas lutas. Essencial provar doses sertanejas, saborear suas cores, temores, odores e dores. E deixar-se ser tão entre Sol e Lua.

Ainda me falta provar o sabor da chuva no Sertão da minha Paraíba.

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  1. Parabéns Clóvis Roberto👊👊👊💥
    Ótima crônica discorrendo sobre os sertões do Nordeste!!
    Paulo Roberto Rocha

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    1. Grato pelas gentis palavras amigo. É uma região fascinante. Um abraço.

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  2. Obrigado Rejane. Eu preciso conhecer mais e mdlbot o Sertão. É realmente cheia de belezas.

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