Já ouvi muitas vezes comentários à guisa desse nome: Jampa. Apelido, cognome, ou meme? Como queiram considerar. Definitivamente, é a cidade de João Pessoa, a que jamais deixará de sê-la, trançando as belezas que transbordam o matiz de suas águas, os seus mares, o seu verde e o seu barroco vetusto e belo.
Chamo-a de Jampa, com toda a força dessa opção e com todo calor de uma sonoridade instantânea sem ruídos de nenhuma ofensa.
Essa nomenclatura, ou esse nome postiço, é um quindim carinhoso dos amantes desta terra, deste “sublime torrão”. Tenho ouvido comentários de pessoas de nível universitário, professores, estudantes influenciados, estupefatos diante de uma coisa tão leve. Perdem seus espaços e tempo com um assunto tão irrelevante. Jampa, sim, e tem muito a ver com o território enverdecido da cidade, esse jeitão descontraído e esse tênue jeito de existir, bem nordestinense, informal e levado.
Uma vez ouvi da poeta Olga Savary: “as regras estão aí para serem mudadas”. E se ninguém mexeu na sua oficialidade, no nome oficial de nossa capital, não há por que se incomodar tanto. E digo com franqueza, já deveria ter existido essa mudança, pois, realmente, o atual nome, com todo o respeito à memória do ex-Presidente da Paraíba, é pesado demais em cima da leveza de nossa tênue e encantada cidade das acácias.
Não quero ampliar um tema que tem reverberado pelos quatro cantos da cidade. Permitam-me só comentar, lembrando que a cidade de São Paulo, por exemplo, é chamada carinhosamente de Sampa; Florianópolis, de Floripa e Belo Horizonte, de Belô. E sem problemas da crítica e do povo que os aceita numa boa. Inúmeros nomes próprios também levam o mesmo formato: Antônio é Tota; Manoel é chamado Mano ou Manu; Elizabeth é Beth; Teodória, é Téo e por aí vai.
Nossa cidade ganhou um apelido descontraído, tenro. Está na hora de os puristas focarem atentos pra outros fatos mais graves, esses que vêm xamegando os bons costumes e derruíndo o verdadeiro sentido de nossa região, ora tão ofegante e quase arquejante pelas agonias e perdas provocadas por coisas que causam distorções e adulterações.
Abandonada pelos olhares indóceis de políticos, as pequenas nações se submetem às ânsias de nossos administradores ineptos, que só enganam hoje os cegos, exceto aos que fazem vista grossa. Se não podem olhar para coisas mais graves – pelo menos – poderiam fazer uma campanha de investigação e conservação de nossos sagrados nomes tradicionais. A nossa carne de charque, – vejam nos Supermercados – lá está escrito na etiqueta (sem respeito nem etiqueta): Carne seca, que é um nome originado de uma forma antiga de conservação da carne de boi, porco, rena, peru, avestruz, camelo e até de animais selvagens. Assim era chamada pelos caçadores e pastores nômades. Hoje, salvo engano, é conhecida com esse nome noutros territórios do Sudeste, porém, no Nordeste, raro se vê.
Se antes de etiquetar essas mercadorias nos Supermercados, dessem uma viajada na história que zela pela origem de nossos produtos, fossem ao Ceará conhecer esses produtos mais de perto, guardados em suas raízes, fincados no nosso orgulho de nordestinos e consumidores da verdadeira carne de jabá ou de Charque, a realidade seria outra. Lá tomariam conhecimento do que resta ainda de uma originalidade.
Amor telúrico? Sim. Além disso, chamar nossa terra de Jampa não é mutilação; é tratá-la com estima, carinho e um mar de paixão.