“Peregrinações e Sacrifícios” é o nome do sexto capítulo da segunda parte de Paulo e Estevão, romance de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Este capítulo relata novas atribulações de Paulo no seu apostolado, incansável em suas viagens para a pregação da palavra de Cristo e para a disseminação de Sua Igreja. Em Filipos, na Grécia, Paulo sofre perseguições, é apedrejado, preso e açoitado impiedosamente. Quando tudo parece se encaminhar para o seu desalento, as portas das celas da prisão se abrem e Paulo consegue mais provas da força da palavra redentora de Cristo, convertendo os presos e o próprio carcereiro.
O que seria motivo de desesperança para Paulo, no entanto, leva-o a continuar a obra do Senhor. Duas reflexões são imprescindíveis neste capítulo, para entendermos que a luta por aquilo em que acreditamos e que nos levará à evolução espiritual é necessária, mesmo que, em determinados momentos nos vejamos esmagados pelo desestímulo. A primeira é quando Paulo responde a Silas se as palavras da Sibila, que os elogiava como anjos de Deus, não eram boas para a causa do Cristo. Como Paulo desmascara o espírito embusteiro que estimulava a Sibila a falar, ele responde a Silas:
“Que fizemos para receber elogios? Dia e noite, estamos lutando contra as imperfeições de nossa alma. Jesus mandou que ensinássemos, a fim de aprendermos duramente. Não ignoras como vivo em batalha com o espinho dos desejos inferiores. Então? Seria justo aceitarmos títulos imerecidos quando o Mestre rejeitou o qualificativo de “bom”? Claro que se aquele espírito viesse de Jesus, outras seriam suas palavras. Estimularia nossos esforços, compreendendo nossas fraquezas” (p. 364).
“Do solo brota muito alimento, mas apenas para o corpo; para a nutrição do espírito, é necessário abrir as possibilidades de nossa alma para o Alto e contar sempre com o amparo divino” (p. 364).
Ainda procuramos as palavras elogiosas e as bajulações, descuidando da luta que devemos travar conosco mesmos para a nossa saúde espiritual. Enquanto essa batalha íntima demora a acontecer, o espinho dos desejos inferiores se torna mais forte, distanciando-nos de nossa evolução. Por outro lado, é difícil, muito difícil que alguém saiba constatar e compreender que o outro se encontra nessa luta. É sempre mais fácil apontar nossas fraquezas do que estimular os nossos esforços.
Na realidade, não há outra forma de estarmos prontos para enfrentar as situações, se não as enfrentando. A vida nos cobra ações, para que nos preparemos para ela. Não há atalhos. A preparação para a vida e suas situações requer paciência, dor, sofrimento, sacrifício e uma boa dose de persistência, conforme vimos Paulo persistir. É assim que um dia vemos que estamos preparados. Não há preparação sem uma caminhada prévia. Aprendemos a fazer, fazendo e refletindo. E se podemos estar preparados, nunca estamos totalmente prontos, mas sempre sendo aprontados pelas situações que a vida nos oferece como lições a aprender.