“Peregrinações e Sacrifícios” é o nome do sexto capítulo da segunda parte de Paulo e Estevão, romance de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Este capítulo relata novas atribulações de Paulo no seu apostolado, incansável em suas viagens para a pregação da palavra de Cristo e para a disseminação de Sua Igreja. Em Filipos, na Grécia, Paulo sofre perseguições, é apedrejado, preso e açoitado impiedosamente. Quando tudo parece se encaminhar para o seu desalento, as portas das celas da prisão se abrem e Paulo consegue mais provas da força da palavra redentora de Cristo, convertendo os presos e o próprio carcereiro.
Novas tribulações não cessam quando chega em Bereia, sendo novamente preso e açoitado. Maior decepção, contudo, foi o resultado de sua pregação em Atenas, sobretudo no Areópago, quando riram e zombaram de suas palavras, chamando seus ensinamentos de obra de ficção. Paulo sofre, então, com o vazio, quando a frialdade do coração dos circunstantes não faz eco a suas palavras, quando não encontra reverberação para o que prega, nem as contestações inflamadas que por vezes vinham da parte dos judeus. Das contestações, ao menos, poderia sair alguma semente. Da frieza da recepção, apenas a frustração.
O que seria motivo de desesperança para Paulo, no entanto, leva-o a continuar a obra do Senhor. Duas reflexões são imprescindíveis neste capítulo, para entendermos que a luta por aquilo em que acreditamos e que nos levará à evolução espiritual é necessária, mesmo que, em determinados momentos nos vejamos esmagados pelo desestímulo. A primeira é quando Paulo responde a Silas se as palavras da Sibila, que os elogiava como anjos de Deus, não eram boas para a causa do Cristo. Como Paulo desmascara o espírito embusteiro que estimulava a Sibila a falar, ele responde a Silas:
“Que fizemos para receber elogios? Dia e noite, estamos lutando contra as imperfeições de nossa alma. Jesus mandou que ensinássemos, a fim de aprendermos duramente. Não ignoras como vivo em batalha com o espinho dos desejos inferiores. Então? Seria justo aceitarmos títulos imerecidos quando o Mestre rejeitou o qualificativo de “bom”? Claro que se aquele espírito viesse de Jesus, outras seriam suas palavras. Estimularia nossos esforços, compreendendo nossas fraquezas” (p. 364).
Ainda respondendo a Silas, que pergunta se ele e Paulo não deveriam, então, entreter relações com o plano invisível, Paulo arremata:
“Do solo brota muito alimento, mas apenas para o corpo; para a nutrição do espírito, é necessário abrir as possibilidades de nossa alma para o Alto e contar sempre com o amparo divino” (p. 364).
Ainda procuramos as palavras elogiosas e as bajulações, descuidando da luta que devemos travar conosco mesmos para a nossa saúde espiritual. Enquanto essa batalha íntima demora a acontecer, o espinho dos desejos inferiores se torna mais forte, distanciando-nos de nossa evolução. Por outro lado, é difícil, muito difícil que alguém saiba constatar e compreender que o outro se encontra nessa luta. É sempre mais fácil apontar nossas fraquezas do que estimular os nossos esforços. E, assim, muitas vezes, afirmamos que não estamos prontos para enfrentar esta ou aquela situação. A afirmação nos vem com uma força inquestionável, como se pudéssemos estar prontos para as situações de uma hora para outra, semelhante a um passe de mágica, sem que fizéssemos qualquer esforço.
Na realidade, não há outra forma de estarmos prontos para enfrentar as situações, se não as enfrentando. A vida nos cobra ações, para que nos preparemos para ela. Não há atalhos. A preparação para a vida e suas situações requer paciência, dor, sofrimento, sacrifício e uma boa dose de persistência, conforme vimos Paulo persistir. É assim que um dia vemos que estamos preparados. Não há preparação sem uma caminhada prévia. Aprendemos a fazer, fazendo e refletindo. E se podemos estar preparados, nunca estamos totalmente prontos, mas sempre sendo aprontados pelas situações que a vida nos oferece como lições a aprender.