Dou com a televisão propagando o amanho de uma família de pequenos agricultores, creio que dos nossos tabuleiros mais próximos, empenhada n...

É tempo de mangabas

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Dou com a televisão propagando o amanho de uma família de pequenos agricultores, creio que dos nossos tabuleiros mais próximos, empenhada no cultivo da mangaba. E me ocorre uma lembrança com tudo para ser exagero: a nervosa euforia de Ari Cunha, calmo e veterano editor do Correio Brasiliense dos anos 70, vindo atrás das mangabas de feira que ele papava direto do balaio, sem afrouxar a gravata, instantes depois de deixar a pista do aeroporto Castro Pinto.
Não só na chegada como na saída. De uma feita, voltava de mãos cheias quando avistou, sozinho num canto da pista, à sombra do avião, o ministro Roberto Campos, que se via esperando o sócio de escritório Fernando da Cunha Lima. E as mangabas a mancheias não deu para quem quisesse.

Pois bem. A família enfocada pelo repórter da Cabo Branco, numa destas manhãs, fala confiante do seu meio de vida, desde a fase do trato agrícola e da produção da polpa até a comercialização. E eu a me perguntar, órfão desse cenário do saudoso país agrícola, como e de que vive a Paraíba em hora difícil e tão imprevista? No tempo do Departamento Estadual de Estatística sabíamos de quê. Num folheto de números claros, fartamente distribuído, íamos do algodão e da cana à pimenta do reino de Mulungu. Nada complicado. Era quando o Estado vivia de suas próprias rendas, pobremente, sim, mas dependendo da gestão. O federal ficava para obras especiais como o Boqueirão. O ordinário mantinha-se garantido pelo imposto de vendas e consignações. No tempo de Pedro Gondim e início da carreira de Maranhão, a agave passara a carro chefe. Agave que os fardos de feno do exterior continuam a importar do México, da África, completamente exilados do nosso semiárido. Conversa fiada a versão do sintético.

Sempre me fiz essa pergunta, açulada agora pelos números desalentadores do desemprego, aqui e no Brasil Grande. A via Internet da estatística, por mais exata que se configure, não deixa de ser abstrata. E é preciso ser do ramo para decodificar gráficos e números ao nível do saber comum. Sumidos o algodão, a agave, os lendários pilares econômicos dos meus tempos de formação, não dá para saber, hoje, de que a Paraíba se sustenta. Dos serviços, dos pequenos negócios, das transferências federais? Isto assustou o próprio Celso Furtado, já setuagenário, quatro décadas depois de haver concebido e se fazer guia do visionário Kubitscheck com um projeto dialético de desenvolvimento, vindo constatar, em honorável velhice,
que ainda somos “a maior massa de miséria do hemisfério (palavras de julho de 1997, no XXIV encontro de Estudantes de Economia, na Unicamp.” E apelando entre os reverentes jovens de Campinas, brasileiros e estrangeiros, pela urgência de um modelo novo para o Brasil. Desconcentrador de renda e de populações.

É nesse encontro que, de forma precursora, vislumbra o retorno à agricultura, ao desafogo urbano e social. O chamado da cidade teve o seu tempo, atingindo hoje, mais que o conforto, o desumano. Soubemos inventar incentivos financeiros, fiscais e diferenciais para atrair a tal “indústria dinâmica”, fechando as que empregavam mais, como a Tibiry, para viabilizar custos e lucros. Para isso, sem essa intenção, tivemos um Celso. Com o quadro de hoje, passa da hora, pois, de vir um plano ao contrário. A câmera que cobriu o enfoque de Herbert Araújo em cima das mangabas é ostensiva em mostrar e gritar por isso.

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