Coube ao governo do professor Tarcísio Burity dirigir as exéquias do 10 de março de 1980, quando a cidade se deu conta do que acabara de ouvir pelo rádio, cedo da manhã, nas últimas palavras de um mito vivo, internado na antevéspera, José Américo, encerrando o discurso de toda uma vida: “Tudo.......consumado”.
Vem o telefonema de Alceu Amoroso Lima, acordado, no Rio pelo repórter de A União: “Volto a repetir, nesta hora de luto para a cultura brasileira, o que já disse, em dois discursos, e que o seu final de vida só o faz confirmar: “morre o homem mais representativo do Nordeste”.
Consumado o homem, consumado o modelo? Não veria assim o governador de então, em relação ao morto sempre em posição de discípulo: “A tragédia humana na obra de José Américo não é aquela que os gregos atribuíam a um desígnio dos deuses. Nem a que os clássicos dos séculos XVI e XVII consideravam fruto do destino. Nos seus livros, a tragédia humana é algo muito mais denso, porque concreto, nascida da vontade do homem. É a tragédia social, criada pelos que não têm consciência nem sensibilidade para tratar dos problemas da terra e do homem. (...) É a revelação desse drama que compõe a grandeza de José Américo”. E vincula a essa missão de convicto, o homem de ação, de atitudes, desde o ministro de 1932, que revigora as Obras Contra as Secas de Epitácio, do candidato missionário à Presidência, ao homem do grito, assim tachado quando rompeu a censura que segurava a ditadura de Getúlio.
Homem de ação, de grandes realizações e de pensamento e de letras. De longa convivência nos planos mais altos sem prejuízo do seu natural, dos pratos do seu gosto, das plantas do seu quintal, da linguagem da sua gente. Perguntei, à saída do velho pescador que conversava com ele: "— Ele fica à vontade com o senhor!?”. E o herói recolhido que as grandes lideranças vinham visitar e ouvir me responde, naturalmente : “Ele é que me deixa à vontade”.
De tanto ver em José Américo o precursor e, ao mesmo tempo, o mentor de uma cultura com os ares da terra e a resistência do homem, o governador Burity não esperou passar o luto para perceber o papel simbólico e a influência educativa e ao mesmo tempo imperiosa da casa de José Américo como fundação cultural. Além de preservar a memória do grande homem, único em qualquer meio ou ocasião, continuaria a convocar as inteligências da Paraíba e do Nordeste para o estudo, a reflexão sobre a região onde nasceu o Brasil.
O êxodo, ao tempo de José Américo, era o da seca; no tempo de Celso Furtado era o da zona rural para a urbana. Quem sabe, hoje, se já não se pode discutir o êxodo ao contrário, i.e., da volta aos campos, secos ou verdes, hoje desabitados.
As cidades já não cabem mais e, nas crises de fome ou sanitárias, como as de agora, o aceno de José Américo não seria outro senão para as terras do Olho d’Água, o engenho onde nasceu. Talvez, lá, nem precisasse de máscara. As técnicas, os meios são outros, os fins continuam os mesmos, quase intocados.
É o que me ocorre lembrar nesse 10 de janeiro, 134º ano de nascimento do grande patriarca.