janeiro 02, 2021
De uma chuva o prelúdio
terminou virando música.
Do céu de Valldemossa,
nas janelas de Maiorca,
no Mar das Baleares,
ou mesmo da Polônia,
em Zelazowa Wola,
onde antes renasceu,
foi colhido o lampejo
para tal composição.
Imaginem que beleza!
Decerto a gota d’água
escorrendo da biqueira,
respingando o solo frio,
ressoava na emoção.
E Chopin enternecido
com o cenário enevoado
recolheu daquele céu
tenebroso e fascinante,
para o “lá” da partitura,
a cadência que enfatiza
o início desta obra.
Quem quiser assim escute,
com a mente transportada
às belezas de Maiorca,
onde dizem que o prelúdio
ao piano foi gestado
para o opus 28.
Começa tão suave,
no lirismo de três notas…
Um chamado afetuoso
sugere observarmos
que num simples respingar
melodia também há.
E daí Chopin profere
nas frases a seguir
tudo aquilo que pretende.
Faz da chuva, em colcheias,
a poesia genuína.
E na nota repetida
ao fundo se escutam
gotas d’água de verdade
irrigando a melodia.
Declarado o motivo,
teorias se sucedem
reforçando a riqueza
do que a chuva é portadora.
Reiteram o que foi dito
de maneira variada
e enfatizam a intenção
do que tem a nos contar.
E os graves bem marcados
vão criando, paulatinos,
a ideia de que a chuva
já começa se encorpar.
Pouco a pouco se avolumam
em acordes vigorosos
e evocam a essência
do que é inexorável.
Com certeza, a essa altura,
Chopin já vislumbrava
nuvens densas pelo céu
das janelas de Maiorca.
Nessa hora é difícil
de conter o que se enxerga
no horizonte fabuloso
estampado no prelúdio.
O cenário indomável
da ilha montanhosa
emerge fascinante
do mistério musical,
da vida em melodia,
da bruma em harmonia.
Mas a fase é passageira
e a chuva se dissipa.
A calma é retomada
nas três notas do motivo
que deu vez à prima voz.
Ralentando se esvai
sugerindo calmaria
e em fermata suaviza
o adeus à gota d’água.
O desfecho se esmera
intuindo a inebriante
transparência de uma relva
que renasce do orvalho
e na alma se eterniza...
De uma chuva o prelúdio terminou virando música. Do céu de Valldemossa, nas janelas de Maiorca, no Mar das Baleares, ou mesmo da Po...
A chuva em colcheias
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