Jojoba tinha uma carreta velha. O que lhe encomendassem levar, estava pronto. Nasceu entre o condutor e a conduzido tamanha interação e amizade que dialogavam. Os parceiros de quilometragem, motoristas como ele, galhofavam: achavam que a carreta estava para lá de fuçada. Tinha freguesia certa de pequenos ou médios comerciantes. O que ganhava dava, no limite, para sustentar a pequena família, pagar as obrigações carimbadas nos boletos; no banco conservava pequena conta corrente e, para não mentir, um cartãozinho de crédito limitado, de baixo espaço para gastos
.
Certa feita, ia Jojoba, enganando o cansaço com um assobio, olho teso no itinerário conhecido, quando um casal alongou a mão; pedido de carona. Ele conversou com Fonfon e ela silenciou. Mas, já no acostamento, o casal se aproximou com dolorosa história. A mãe da mulher havia viajado para longe definitivamente: eles (pobres agricultores) não podiam pagar o ônibus. O bondoso Jojoba puxou o lenço; enxugou o suor e o compadecimento que lhe descia na face rosada. Consentiu que entrassem, mesmo que apertados, na boleia. Conversaram bastante. Jojoba pouco respondia, costume de prevenção adquirido durante as muitas viagens.
Chegou o ponto de descerem. Antes que Jojoba desse a partida, ambos rodearam pela frente da carreta. Jojoba pensou em agradecimento. O caroneiro enfiou a mão na calça. Jojoba jamais aceitaria dinheiro. Mas o homem e mulher se despejaram em pranto, rogando pela vida do motorista bom que lhes conduzira. Deitaram uns reais em moedas na mão aberta do dono da carreta. Ele as devolveu e com o sorriso por baixo do bigode espesso, deu partida para seu destino. Fonfon buzinando sua alegria. Jojoba feliz pela carona que dera. Fora uma promessa a Santo Antônio.