Choveu pela manhã... Uma água leve, pequenas gotas que se derramavam no asfalto, nem chegavam a ser suficientes para banhar a cidade. Era início do verão natalino, cheio de sóis, calores e luzes noturnas artificiais multicoloridas em prédios, plantas, varandas e variantes humanas que se multiplicavam na tentativa de sinalizar caminhos feito como o entrelaçamento de Saturno e Júpiter, tão próximos, tão distantes. Eram faróis em plena terra firme, já balançada pelos répteis humanos caçadores de jacarés e outros fantasmas.
Mas há sim esperança. Que a parte boa da humanidade sirva para salvar a humanidade, ou torná-la mais humana, suportável. E que o menino que nasceu e revolucionou uma época inspire novas eras, ajude novos meninos e meninas. E que a lágrima púrpura não seja vã, que a água caída dos céus seja purificante.
Que a Era de Aquarius (Aquário) sucede Piscis (Peixes) e derrame vida ao século XXI, como numa cena pressagiada por Milos Forman em "Hair", que permita que os cabelos e ideias voem livres, assim como as mãos caminhem soltas pela terra dos sonhos.
Choveu pela manhã, mas não o suficiente para remover o rubro jambo caído na rua. Mesmo machucado, o fruto ainda saboroso nas partes intactas, alimento para o desejo de sentir o cheiro com a boca. Em outras paragens, era amarelo manga doce solta no terreiro, embaixo da árvore de enfeites verdes dependurados feitos as lâmpadas natalinas. Conexões imagináveis.
Pois era dezembro e o doce sonho sempre se faz presente. Foi assim em épocas anteriores ao longo dos últimos dois mil e tantos anos. Sorte não termos bolas de cristais para adivinharmos as distâncias que seríamos impelidos logo ali tão próximo. E agora a nossa única arma é informação contra a mentira endêmica que se espalha feito vírus mundial. Porém, um mal curável através da vacinas multinacionais.
Retornemos ao pedaços soltos dos dias. Precisam ser colados até os últimos segundos para construir o mosaico que chamam de vida. Imprecisos e perfeitos instantes de cada olhar, fala, sorriso, música, copo cheio esvaziado, cada pisca-pisca acesso e apagado, cada gota de vinho, lágrima ou chuva.
Que sejamos natalinos, ressuscitemos coisas boas e enfeitemos a caminhada de flores, pássaros, gentes e cores iguais as telas festivas do xará Clóvis Júnior, que animam olhos e aquecem corações. Pinceladas de festas da nossa terra em traços de felicidades nordestinas. Quadros que extraem sorrisos do interior, aquecem o coração com azuis, vermelhos, amarelos, verdes, marrons.
Choveu pela manhã... E senti de novo o arejado frescor do dia que se estende em pequenas construções. Ao fim, abriguemo-nos todos no presépio, para ganharmos a proteção daquele menino. E que ele renasça dentro de cada um.