Nenhuma história que se faz no decorrer da vida tem maior importância do que outras já feitas, nem mais felizes, tristes ou significativas...

Tropeços

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Nenhuma história que se faz no decorrer da vida tem maior importância do que outras já feitas, nem mais felizes, tristes ou significativas. É apenas mais uma e por si só, deve ser respeitada seja como experiência, seja por vergonha de a haver feito, ou pelo prazer de a haver saboreado.

Hoje, coloquei uma imaginária ampulheta virada sentindo a lentidão que a areia escorre através dela. Acompanho essa lentidão da espera e sei que nada minará minhas certezas, ou cessará minhas inevitáveis dúvidas, é o início do aprendizado da paciência,
coisa complicada para quem faz da ansiedade o impulso de viver. Vou abraçar-me ao tempo e com ele dançar num ritmo lento para sentir o momento que é de delicadeza e fragilidade.

Minha sorte é ser feita de algum produto maleável que, sem medo, se molda a recortes e indefinições. Volto ao meu corpo e o sinto alastrar-se no ar, vivendo coisas além de mim mesma. Se me vejo em algum espelho, não me assombro por ser bonita ou feia, pois sou de outra categoria, aquela que se faz consciente apenas de estar viva, livre, completa em mim mesma, sendo fiel ao que acredito me trazer felicidade.

Mesmo que eu tentasse tecer novos tecidos, cheio de cores e brilhos, não seria capaz de vesti-los e sentir-me confortável. As coisas antigas, que se distanciaram momentaneamente, voltam a fazer sentido, a impor sua verdade, sua força e grandeza. Já vivi muito e decepcionei-me outro tanto e agora, por mais que tente, algumas coisas continuam difíceis de acreditar.

O que me deixa tranquila é que tenho um amplo ancoradouro, meu porto seguro que é uma família sólida, amorosa e acolhedora. Renovar-me no meio dela é abastecer-me de amor e afeição. Em momentos onde há mares tumultuosos é essa família que segura o barco e coloca meu leme em nova direção.
Temos canções que só nós conhecemos e brincamos para nos fazer felizes. Temos palavras e conceitos tão nossos, que alguém de fora entenderia ser um novo dialeto. Essa cumplicidade é que nos aproxima.

Agora, ao meu redor há muitas árvores, vento, cores, latidos de cães e miados de gatos. Os brinquedos que se espalham pelo quarto, mostram a ternura infantil por cada boneca despenteada, por cada panelinha sem cabo, por pequenas xícaras onde tomamos um chá imaginário. Ela e eu, essa menininha que me mostra o quanto a vida tem sentido e continuidade. É através dela que enxergo a beleza do mundo, onde a maldade, as doenças, os desencontros não existem. É aqui, ao lado dela que vejo o futuro, que o amor real, forte e saudável existe e só isso basta para a alegria tomar todo meu coração.

Sei que posso estar escrevendo algo sem sentido, apenas pelo prazer de deixar as palavras fluírem em substantivos, verbos e pronomes, para não me deixar cair na insônia. No entanto, quero finalizar com uma frase lida com a qual concordo inteiramente: “tropeçar, também é caminhar” ...


Cristina Lugão Porcaro é bacharela em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

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  1. Parabéns pelo texto ..Cristina Porcaro👏🏻👏🏻👏🏻
    É isso mesmo❗"Tropeçar,também é caminhar"...
    Paulo Roberto Rocha

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  2. Como sempre o seu texto me faz viajar pelas minhas lembranças e o nó na garganta me faz parar e refletir que apesar "de" a vida vai seguir e vou tentar encontrar um motivo para sorrir ...e também vou olhar a menina...a panelinha e viajar no carinho que representa a continuidade de mim.Gratidao 🌻

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  3. Parabéns prima, você tem jeito doce de escrever!!!

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