A radiola movida a tilintar de moedas: vez por outra, alguém ia lá e inseria um níquel redondo e o long-play caía para a agulha extrair as vozes de cantores e cantoras de sucesso, na época. Foi lá que escutei, pela primeira vez, Cauby Peixoto interpretando “O Rouxinol”. Voz esplêndida. Muitos levavam a família para gostosa reunião. Se havia, não garanto, prostitutas rondando pelos entornos, menino ingênuo, não despertava.
Além de achar o Pavilhão do Chá parecido com um carrossel imóvel, se dizia que lá dentro morava um leão fugido da Bica. Ficava eu temeroso pela fera enjaulada naquele lugar de pasto e bebidas. Chamava-o Palácio do Leão. Quando estivemos, pelo Natal, em São Luís, Maranhão, quando me disseram que a sede do Governo do Estado tinha o mesmo nome, apenas mudando a declinação para Leões (Palácio dos Leões), veio-me à recordação o cognome que atribuí ao Pavilhão de nossa cidade. Decerto o menino se buliu nas minhas entranhas.
Tardes de passeios inesquecíveis, noites de casais recostados nas amuradas, o som da banda executando peças maravilhosas, grupos a conversar amenidades. Quando meu pai saía do lanche a que me referi antes, já estava organizado o “senadinho”. Começava a conversa sempre sobre política. Havia divergências. Chico Belmiro, com o pescoço de peru, exaltado defendia com ardor seu candidato.
Eu, alheio, fitava o Pavilhão do Chá, que nunca deu um giro. O assunto deles era tratado numa linguagem que me parecia estrangeira... Eu corria em derredor do pavilhão.
José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista