Dizem que o tempo passa rápido – e passa mesmo. Principalmente nos dias atuais, de vida corrida, quase frenética. Apenas os muito jovens talvez não sintam essa rapidez do tempo, tão cheios de futuro estão os que ainda não sentiram o peso da existência. E é bom que seja assim. Pois seria triste uma juventude sem ilusões. Mas o fato é que o tempo passa mesmo ligeiro. Até para os moços.
E é assim, com esse sentimento, que comemoramos neste 28 de novembro de 2020 o aniversário de 80 anos do professor José Jackson Carneiro de Carvalho, uma comemoração que é da família, dos muitos amigos e da própria Paraíba, que nele tem um de seus maiores intelectuais de todos os tempos.
Professor, escritor, reitor, secretário de Estado, acadêmico da APL, fundador da Academia Paraibana de Filosofia, empresário da educação, agitador cultural e muitas outras coisas mais, sempre, como se vê, ligado às coisas do ensino e da cultura. Um intelectual por excelência. E dos maiores que já tivemos, volto a dizer, à vista de sua incomparável produção literária.
De sua obra, bastariam três livros importantes para consagrá-lo não só aqui na aldeia mas também em todo o país, tivessem sido publicados e divulgados nos grandes centros. Refiro-me a “A modernidade e os caminhos da razão”, significativa análise “do papel da razão na ordem explicativa da realidade em todas as suas dimensões”, de 2006, “Albert Camus – Tragédia do Absurdo”, alentado ensaio sobre o pensamento e a obra do escritor francês, de 2010, e “André Malraux – Entre o real e o fantástico”, estudo sobre “A condição humana”, romance fundamental do célebre francês que foi ministro da Cultura de De Gaulle, de 2011. Livros de um peso intelectual poucas vezes visto em publicações locais, cuja autoria só podia mesmo ser de um pensador de escol, que muito orgulha a intelectualidade paraibana como um todo. E vale lembrar que quando involuntariamente interrompeu sua ascensão autoral o professor Jackson estava concluindo um aprofundado estudo sobre Dostoiévski, certamente outra produção singular em nosso meio.
Mas voltemos a 28 de novembro de 1940. Na pequena Caiçara, região do Curimataú, próxima a Guarabira, nascia o filho de seu Severino Cavalcante de Carvalho e de dona Maria Carneiro de Carvalho, exatamente aquele de nome José Jackson e que primeiramente iria ser destinado, como tantos outros meninos de sua geração, ao Seminário Diocesano da Capital, uma de nossas universidades paraibanas, juntamente com o Liceu, de onde saíram inúmeros luminares de nossa vida cultural. Daqui, foi para Roma, onde se fez padre e teólogo. E de lá, voltou às origens, onde iniciou a carreira universitária, chegando, já na vida laica, democraticamente ao cargo de reitor da UFPB, quando esse cargo ainda possuía relevância ímpar na aldeia.
Quando, em 1988, inaugurou o hoje desaparecido busto de José Américo no hall da Reitoria, no centenário de nascimento do fundador, soube afirmar: “Oh! Quanta falta fazem estadistas, como José Américo, que além de árvores são capazes de ver florestas. Oh! quanta falta fazem estadistas, como José Américo, que são capazes de buscar soluções definitivas para o seu povo, sem se perderem nas mesquinharias provincianas. ... Oh! quanta falta fazem estadistas, como José Américo, que se impuseram ao respeito de seus concidadãos pelo padrão ético de seus comportamentos, pela coerência e firmeza dos princípios que nortearam suas condutas, sem jamais macularem suas mãos com a desonestidade e a corrução, verdadeiro câncer desta nação.” Eis o homem.
Sem nenhuma dúvida, trata-se de um nome unanimemente respeitado dentro e fora da Paraíba. Um homem de trajetória pública e privada exemplar. Atuante. Participante. Que nunca se omitiu, nunca se acovardou, nunca deixou de contribuir para com a sua terra e seus conterrâneos. Fiel a Caiçara e a si mesmo. Um homem, enfim, que merece todas as homenagens de nossa gente e de nossas instituições, as quais, como se sabe, paraibanamente costumam chegar sempre atrasadas nessas ocasiões.
Antecipando-me, aqui faço minha modesta parte neste acontecimento estadual, rendo meu preito ao grande paraibano e amigo, ao tempo em que agradeço o muito que lhe devo.
Francisco Gil Messias é cronista e ex-procurador-geral da UFPB