Mesmo tendo seu início oficialmente considerado como datado de 1958, quando João Gilberto, a quem se atribuía a condição de pai da bossa nova, e Tom Jobim, lançaram o compacto simples com as músicas “Chega de Saudade” e “Bim Bom”, esse movimento ganhou força a partir de 1962, oportunidade em que surgiu “Garota de Ipanema”, que passaria a ser, como é até hoje, a música brasileira mais tocada no mundo. Esse gênero musical não tinha apelo popular, era preferido pelos intelectuais e pela juventude engajada politicamente.
Quem estava antenado com o momento de renovação da música brasileira adquiria discos de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Carlos Lyra, João Gilberto, Marcos Valle, Nara Leão, Toquinho, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscolli, os grandes nomes da bossa nova. Nem será preciso dizer que era disco de vinil, formato em LPs e compactos simples e duplos.
Minha discoteca já possuía vários deles. Passava horas me deliciando na audição que me era proporcionada por sua execução na radiola de casa. Para os atuais, radiola era uma vitrola, um toca discos. São músicas que nunca morrem, se eternizaram, tais como "O barquinho", "Eu sei que vou te amar", "Corcovado", "Águas de março" e "Samba de uma nota só". A bossa nova ultrapassou nossas fronteiras, tendo sido cantada inclusive por Frank Sinatra.
O caráter intimista e rebuscado da Bossa Nova funcionou como uma recriação da MPB, o momento do samba moderno, sinalizando o principiar de uma nova era da música nacional. Ouvir as canções que marcaram o tempo da bossa nova não é saudosismo, é revelar-se um apreciador da boa música, perceber que a excelência musical não se perde com o avançar dos anos. Tudo que nasce a partir da genialidade, da competência, do talento, fica atemporal.
Rui Leitão é jornalista e escritor