Cansada de aumentar e diminuir de tamanho, Alice resolveu procurar a Rainha. Marchava firmemente em direção ao palácio (dessa firmeza que a gente tem nos primeiros momentos em que toma uma decisão), quando viu embaixo de uma árvore um Bicho esquisito. O Bicho acenou, rindo, e como é difícil resistir a quem nos acena rindo, ela se aproximou.
— Quem é você? Nunca tinha lhe visto antes.
— Sempre estive aqui — respondeu o estranho animal, que usava uma roupa amarela, meio frouxa no corpo, e um chapéu azul caindo de lado.
— O fato de você não ter me visto não quer dizer que eu não existia.
— Que coisa mais tola! Para você existir – pelo menos para mim –, eu precisava lhe ver.
— Está bem. Não vale a pena discutir com crianças.
— Você acha que, por ter a minha idade, eu não entendo as coisas?
— Não é questão de entender ou não entender. Não se trata de lógica, mas de bom senso. E depois... ser criança não depende de idade.
Disse isto com um ar superior, que ofendeu Alice, pois nada ofende mais uma criança do que ser tratada como tal. Percebendo o ar aborrecido da menina, o Bicho mudou de assunto.
— Pra onde você vai assim tão rápido?
— Vou procurar a Rainha. Quero que ela me ajude a não ficar mudando de tamanho. Não aguento mais aumentar ou encolher sem razão.
— E por que logo a Rainha?
— As rainhas (e os reis, é claro) são poderosas, além de sábias. Só ela pode me ajudar.
— Pois saiba que você vai procurar quem menos devia. A Rainha pode até lhe dar um tamanho único, mas será na medida que ela escolher. Além disso, vai cobrar caro pelo favor. E sabe, menina? Nada mais monótono do que medir sempre a mesma coisa — ainda mais por decisão real! Haverá momentos em que você vai querer crescer ou diminuir de novo, e terá que pedir a aprovação da Rainha para isso.
Alice sentou-se no chão e ficou calada. Parecia pensar seriamente no que tinha ouvido... (Só “parecia”, pois não tinha paciência para pensar muito. Achava que, enquanto pensava, as coisas em volta iam acontecendo sem ela.) Depois de quase um minuto, perguntou:
— Então... não há solução para mim?
— A solução é esquecer a Rainha e esperar.
— Esperar?! Quanto tempo?
— O tempo necessário.
— E qual o tempo necessário?
— Isso você vai só descobrir quando deixar de aumentar e diminuir de tamanho. Não há outra forma de saber.
— Entendi (não tinha entendido, mas sabia que nada agrada mais alguém com quem se conversa do que fingir que se entende tudo). Mas, enquanto isso...
– Esqueça “enquanto isso”. Ficar ligado no “enquanto isso” torna insuportável qualquer espera. Espere esquecida de que está esperando, assim você sentirá menos o tempo passar.
Alice achou isso de muito “bom senso” e resolveu adiar por uns dias a visita à Rainha. Ao sair, disse ao Bicho:
— Não sei com que palavras lhe agradecer.
— Não procure demais. As melhores são mesmo “muito obrigada”.
Chico Viana é doutor em teoria literária, professor e escritor