Com grande preocupação e temor tenho assistido ao desmantelamento da educação brasileira. É gritante a desvalorização do ensino e do profe...

Professores e mestres

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Com grande preocupação e temor tenho assistido ao desmantelamento da educação brasileira. É gritante a desvalorização do ensino e do professor, algo que vem acontecendo há algum tempo, mas que recentemente agravou-se muito mais.

Como sempre afirma o filósofo Lauro Wanderley, em nossos colóquios políticos virtuais, a educação é a base do desenvolvimento de uma nação. Todos os povos que estão mais desenvolvidos que nós estão assim vindos de um longo planejamento educacional. Quatro décadas atrás a Coréia do Sul, por exemplo, apresentava um nível educacional semelhante ao nosso. Hoje nós os vemos beeeeem lá na frente. Ambos concordamos que uma das principais causas desses problemas tem sido a ideologização perniciosa da educação brasileira.

Embora já venha acontecendo há algum tempo, se considerarmos apenas estes últimos anos, veremos que nos atrasamos pelo menos uma década. É péssimo para o Brasil, que parece retroagir em níveis de educação e cultura, distanciando-se ainda mais dos outros países.

Até parece ser institucional esse desprezo com que estão tratando ensino. Faz pensar que aqui se consideram educação e cultura como manifestações de fraqueza da sociedade, e o conhecimento e a ciência como sendo processos ideológicos contrários às crenças. E por isto não têm vez num regime que se pretende ser de força.

É inevitável que eu evoque e compare com todo o processo educativo que me trouxe até onde cheguei. Pois foi bem diferente do que hoje estão propondo, a nível de Brasil. Julguem vocês mesmos.

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O mês de outubro sempre me traz duas boas recordações, ambas me fazendo retornar à infância: o Dia das Crianças e o Dia dos Mestres. Este também coincide com o natalício de minha irmã Ana Cândida. Portanto, é para mim uma data duplamente importante.

Relembrando os sistemas de ensino de então, no curso primário (hoje Fundamental) tive apenas professoras. As lembranças são variáveis: penei com elas, e elas penaram comigo. Mas algumas se destacam nas minhas memórias. Por isso é justo que eu mencione essas mestras.
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Dona Carmita me ensinou a ler e escrever. Sua escola, na Praça da Independência, obedecia ao padrão da época: todos os alunos, de todas as idades, numa única sala de aula. Vocês imaginam o trabalhão delas, para ensinar simultaneamente a turmas diferentes.

Uma das lembranças mais carinhosas é da Cartilha Sarita. A outra é que foi lá que aprendi uma nova palavra para o meu vocabulário: gaiato. É como ela chamava Manfredo, um colega que não parava em seu lugar, e que depois se tornou um destacado cineasta.

A Dona Silvia despertou meu interesse por ciências. E com Dona Joaninha eu descobri o fascínio pela geografia. Mas foi com Dona Cristina Di Lorenzo que reuni forças suficientes para ser aprovado no Exame de Admissão ao Ginásio, do Colégio Pio X.

Deviam ser todas boas mestras, pois conseguí aprender, passar de ano, e progredir na vida.

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No Pio X encontrei padrões completamente diferentes, tanto de ensino como de estudos, e encontrei outros mestres, também inesquecíveis. Fiz a primeira série no ano de 1962. Lembro-me que a minha classe, 1ª Série A, tinha um longo quadro verde acompanhado de um estrado elevado e um birô coberto por uma toalha de plástico, onde estava escrito em letras enormes: 1961.

Colégio Pio X Acervo da Instituição
O titular de minha turma era o Irmão David. Com ele despertei para o domínio de línguas: aprendi francês, tão bem ministrado que me foi muito útil quando fiz a minha primeira viagem à Europa, três décadas mais tarde.

Só no ano seguinte, na 2ª Série A, foi que começamos a estudar inglês, ministrado com muita habilidade pelo professor Nielson. O titular de nossa turma era o Irmão Augusto, que às escondidas nós chamávamos de Auguste Picard, o escafandrista. Era magérrimo, e pouco tolerante para com as nossas inquietudes juvenis.

Mas o grande Irmão Marista que nós tivemos no Pio X daqueles anos, o melhor de todos, para mim, foi o Irmão Geraldo. Era uma grande figura, do qual todos os ex-alunos do meu tempo se recordam muito bem. Era muito bem humorado, brincalhão e paciente. Além de nos disciplinar de forma humana, ensinava francês, história e geografia. E religião.

O professor de matemática mais lembrado (e temido!) da minha geração foi o irmão Leãozinho, que também ensinava ciências. Ele coordenava um laboratório onde era possível aprender química, geometria, ótica e muitas outras ciências.

Um professor de português que se destacou foi Irmão Balestro, um gaúcho, com quem tivemos aulas inesquecíveis. Ele era muito culto, e aos poucos nos introduzia à literatura. Era fascinante ouvi-lo declamar o Juca Pirama, de Gonçalves Dias, fazendo o compasso com o pé!


“No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos - cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação. São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão”

Somente ao final do Ginásio foi que despertou a minha paixão pela matemática, que hoje está presente em TODAS as atividades da minha vida.


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Lyceu Paraibano / JP Paraíba
Do Pio X fui estudar o Científico (hoje Ensino médio) no Liceu Paraibano, onde encontrei outra realidade. Um novo e deslumbrante universo! Liberdade plena e absoluta, limitada apenas pela nossa responsabilidade. Lá também encontrei excelentes professores, muitos dos quais se destacaram como verdadeiros mestres.

É o caso de Sebastião Ferreira Filho, de física I, com quem aprendi cinemática. Puxa, como ele ensinava! Suas aulas eram todas práticas, exemplificando de imediato a teoria. E também Damião, professor de física III, com quem estudamos ótica e termo-dinâmica, foi outro grande mestre. Ambos formaram a minha base para disciplinas futuras, como: fisiologia, cardiologia, biofísica, oftalmologia, estatística e epidemiologia.

Além deles, a memória distante me permite lembrar de Jeová Colaço, de biologia e Júlio Aurélio, de história, que também foi a disciplina do professor Hosmani.

Na preparação para o vestibular tivemos uma trinca de ases: Alessio Toni, em português; Jader Nunes na física, e Valtércio, de química. Se fosse um time de futebol, seria “o ataque dos sonhos!”

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Do curso superior, registro vários destaques. Correndo o risco de ser injusto, vou citar alguns, de memória: Haroldo Escorel: biologia. Gisele, na fisiologia. Isnar: química. Isidro Gomes na anatomia. Samuel Norat e Aníbal Moura, em neuranatomia.

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Hosp. Sta Isabel Acervo Mun. JP
Orlando Coelho e Everaldo Soares na obstetrícia. Vanildo Brito e Marcelo Dunda foram mestres da cardiologia. Dr. João Batista Mororó se destacou em medicina tropical. Assim como José Eymard Medeiros e Galvani Muribeca, em gastroenterologia.

Augusto Almeida Filho foi um grande mestre da clínica cirúrgica I. Nancy Viana e Zé Alberto na neurologia. E a inesquecível e tão amada por seus alunos, Dra. Lourdes Brito, cujas aulas eram repletas de exemplos familiares, tornando a cátedra uma extensão da sua vida.

Dr. Arnaldo Tavares era um fenômeno, em sua polivalência: era titular de genética e evolução. Mas substituía professores que não pudessem comparecer, qualquer que fosse a disciplina que estivesse vaga. E sem se preparar dava aulas ricas e fabulosas, quaisquer que fossem as matérias! Muito inteligente, e cheio de imaginação, dominava qualquer assunto. E não deixava de brilhar naqueles que desconhecia! Mas seria injusto seguir adiante sem citar Genival Veloso, professor de ética e medicina-legal, e Maurílio Almeida, em análise clínica. Excelentes mestres!

O meu Internato foi cumprido no Instituto de Doenças do Tórax do Recife, do saudoso professor Mauro Arruda. Lá foi onde eu realmente aprendi cardiologia, com os professores Edgar Vitor, Jorge Elisio Wanderley e Ivan Cavalcanti.

Depois veio a Residência médica no Instituto de Doenças Cardiopulmonares E.J. Zerbini, que então funcionava no hospital São Joaquim, da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Foi lá onde aprimorei os meus conhecimentos com os mestres Radi Macruz, Valéria Bezerra de Carvalho e Ângela Rainéri, além do próprio Professor Zerbini.

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Torre da Faculdade de Direito / JP
Ao longo da vida conheci outros professores que também podemos chamar de mestres. Começo dentro de casa, com meu pai, Francisco Espínola, com quem aprendi muito sobre a natureza, astronomia, zoologia, além de ética e respeito ao próximo.
O outro foi meu irmão Silvino, que enquanto atuou em sua cátedra no Departamento de Arte da UFPB foi um sucesso entre os seus alunos, repetindo o fenômeno do pai. Além dos dois havia o meu irmão mais velho, João Neto, que antes de tornar-se juiz foi professor-adjunto no curso de direito.

A propósito de Francisco Espínola, ele tem uma história curiosa: a sua vocação surgiu quando ainda era juiz, dentro do seguinte contexto: até a década de 1980 todos os magistrados recebiam baixos salários.
Posteriormente promovido a desembargador, e ainda ganhando mal, Dr. Chico Espínola, como era carinhosamente chamado por todos, tinha como agravante oito filhos para vestir, educar e alimentar, com os parcos proventos que percebia. Por força da necessidade foi que ele venceu a sua timidez, e partiu para a luta: foi ensinar!

Primeiro ensinou no curso superior de Jornalismo, que então funcionava nas classes do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, à noite.

Posteriormente fez concurso para a Universidade Federal da Paraíba e tornou-se professor de Direito Penal. Quis o destino que, apesar da timidez e da gagueira que apresentava quando ficava nervoso, ele viesse a se tornar uma celebridade entre os seus alunos, que até hoje a ele se referem com reverência.

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Assim é que aproveito a ocasião deste Dia dos Mestres para homenagear a todos os professores brasileiros, especialmente aqueles mais simples, que heroicamente enfrentam tantas e tamanhas dificuldades nas salas de aulas, desde a falta de material didático e impossibilidade de acesso a cursos de extensão, até à desvalorização dos salários, perseguição e agressões físicas.

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Professora Ângela Bezerra de Castro
Aos professores de xadrez, que se dedicam a oferecer a possibilidade de tantas crianças saírem do anonimato, e que são verdadeiros Grandes-mestres nos tabuleiros e fora deles: Chiquinho Cavalcanti, Dutra, Fabiano, Fernando Melo, Kleber Maux, Frank Lins (in memoriam) e Luismar Brito.

Para concluir, escolhi a figura da nossa eterna professora Ângela Bezerra de Castro para representar todos esses heróis da cátedra, anônimos ou não. Mestra com muita personalidade, agora assume um novo desafio: presidir a Academia Paraibana de Letras.


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  1. Parabéns José Mário Espínola..Linda homenagem a seus mestres instrutores educativos...os quais lhe deixaram "gostosas" reminiscências.
    Assim, também EU carrego meus bons momentos escolares.
    Paulo Roberto Rocha

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    1. Agradeço a todos pelas palavras bondosas. É sempre um estímulo para mim ler vossos comentários.Parodiando o I Juca Pirama, hoje eu posso dizer: “Meninos, eu vi!”

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  2. Agradeço a Sérgio pela sua generosa opinião. Ajuda-me muito.
    Espero um dia escrever tão bem quanto você. Jamais chegarei ao nível de Gonzaga Rodrigues

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  3. Obrigado!Dr José Mário que história educacional linda é motivadora👏👏👏👏👏👏❤

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  4. Gratidão, é a palavra que resume o seu reconhecimento aos Mestres que marcaram épóca em sua memória. Parabéns Zé Mário!

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  5. Obrigado, amigos! É uma honra ter leitores tão categorizados!

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