– Eu soube que você tem lido muito. É verdade?
– É verdade, sim. Quero decifrar o enigma da vida.
– Como aquele rei tebano... Qual é mesmo o nome dele?
– Aquele que gostava demais da mãe? A coisa ficou em segredo, até que veio um austríaco e a revelou pra todo o mundo. O pobre do rei ficou com complexo e saiu por aí, caminhando com os pés inchados. Também não lembro o nome dele.
– Édipo! E o alemão foi o Freud, aquele que só pensava em sexo. O homem era tão pra frente que diante dele todo o mundo se sentia recalcado, inferior.
– Também pudera! Ele era um gênio do porte de Newton ou…
– Newton foi o da maçã, não foi? Dizem que uma maçã caiu na cabeça dele, e uma parenta que viu tudo começou a rir. Para deixar a moça sem graça, ele inventou a lei da gravidade.
– Pior foi Einstein, que desprezava o ser humano.
– Ué! Quem desprezava não era Schopenhauer?
– Não. Era Einstein mesmo. Desprezava tanto, que tirou uma foto estirando a língua. Como quem diz: “Olhe aqui pra vocês!”.
– Conheço a foto, mas não acho que ele fez aquilo por desprezo. Pra mim foi macaquice mesmo.
– Pode ser. Afinal de contas viemos todos do macaco, e vez por outra não resistimos a uma macaquice. Hobbes que o diga.
– Darwin!! Hobbes é outra história – ele nos associou a lobos. Queria que nos comêssemos uns aos outros.
– Não exagere. Ele apenas disse que o homem é o lobo do homem.
– E o que faz um lobo, senão devorar a presa?
– Eu não concordo com o que você diz, mas sou capaz de recusar o próximo chopp para lhe garantir o direito de dizer isso.
– A frase é profunda, mas não original. Alguém já falou coisa parecida.
– Voltaire! Mas ele não menciona a chopp. Portanto, parte da autoria é minha.
– Voltaire, aquele que serviu de inspiração a um personagem de Stephen King?
– Não. Voltaire, filósofo do Iluminismo. O personagem de King era o Iluminado e, ao que me consta, não tinha nada a ver com o autor desta outra frase famosa: “De pensar morreu um burro.”
– Essa história eu conheço. Ele não aguentou ver o burro morrer por causa de umas chibatadas que o dono lhe aplicava, e terminou enlouquecendo.
– Peraí, esse foi Nietzsche, precursor de um famoso herói de histórias em quadrinhos – o Super-Homem. E animal não era um burro, era um cavalo!
– Nietzsche? O que queria ser Cristo?
– Pelo contrário. Nietzsche queria ser o Anticristo. Para isso ele se afastou dos homens; achava que o inferno são os outros.
– Eu pensava que essa frase era de um francês, Sartre de Beauvoir.
– Não, esse foi o criador do feminismo moderno...
Faz uma pausa e esvazia o copo:
– Como esse papo promete ir longe, proponho que a gente pare com a cerveja. Do contrário, vai começar a confundir as coisas.
Chico Viana é doutor em teoria literária, professor e escritor