Próximo à esquina mais famosa do centro velho da cidade de São Paulo, o cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, fica o Palacete dos Artistas. O lugar era um antigo hotel que foi recuperado pela prefeitura da cidade para servir de abrigo a artistas aposentados que estivessem em dificuldades financeiras ou que não possuíssem residências.
Um dos primeiros moradores do abrigo, desde que foi inaugurado, em 2014, é um senhor de pouca estatura (1,61m), que se aproxima, atualmente, dos 91 anos. Nasceu na Paraíba, na cidade de Serraria. Quando tinha oitos meses de idade, sua família mudou-se para Campina Grande, onde viveu sua infância e adolescência. Deixou a cidade quando tinha quinze anos, em uma nova mudança da família. O destino, dessa vez, foi o Rio de Janeiro. Para viajar, precisou tirar seus documentos e teve a surpresa em saber que o seu nome, que ele achava ser "Valdemir", fora registrado por descuidado escrivão como "Valdemar de Farias".
Ao chegar ao Rio de Janeiro (então Distrito Federal) em 1945, Valdemar foi morar em um bairro distante de Nova Iguaçu. Com sua voz nítida e possante de barítono conseguiu o emprego de locutor em um serviço de alto-falante. Naquele tempo, ele já dava os seus primeiros passos como cantor amador, prática que iniciara em serestas, quando ainda morava em Campina Grande, “arremedando os grandes cantores da época”, como ele próprio diz.
Em Nova Iguaçu, Valdemar conheceu o compositor Assis Valente, que, sabendo do seu interesse em ingressar na vida artística, o indicou para uma companhia de teatro de revista. Não foi aproveitado como cantor na companhia, mas conseguiu o posto de auxiliar da direção. Por essa época, Valdemar fez um curso de teatro com o diretor polonês Ziembinski. Já morando na cidade do Rio de Janeiro, começou a se apresentar no rádio, em programas de calouros.
No final dos anos 1940, Valdemar já cantava em dancings e atuava como crooner do conjunto instrumental Os Copacabanas, na boate do Hotel Glória (uma das principais do Rio de Janeiro), onde dividia o palco com a cantora Dolores Duran.
No começo da década de 1950, Valdemar foi contratado como cantor em rádios do Rio de Janeiro e adotou o nome artístico de Roberto Luna, com o qual ficou conhecido a partir de então. Iniciou, naqueles anos, a gravação da sua imensa discografia que chega a cerca de 60 discos. Seu repertório era o cancioneiro que então predominava, formado por sambas-canções e boleros. Também gravou "Serenata do Adeus" (Vinícius de Moraes) e "Se Todos Fossem Iguais a Você" (Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, dupla de compositores que dava seus primeiros passos).
No início da década de 1960, o artista transferiu-se para São Paulo e teve o seu nome para sempre associado à vida boêmia da cidade, da qual participou, ativamente, durante mais de meio século. Foi dono de várias boates na capital paulista, nas quais atuava como cantor. Também compartilhava das aventuras noturnas da cidade. Uma delas, envolvendo Tim Maia no início da sua carreira, é narrada por Nelson Motta no livro “Vale Tudo”, a biografia de Tim:
Ao saber, por meio de um repórter da Folha de São Paulo, das palavras que Nelson Motta escreveu sobre ele, Roberto riu e disse: “ele não errou não...”.
Com os rudimentos de teatro ensinados por Ziembinski, Roberto Luna também teve participações como ator no cinema brasileiro, inicialmente em chanchadas ao lado de Ankito e Grande Otelo e, depois, em 1968, no filme “O Bandido da Luz Vermelha”, do diretor Rogério Sganzerla.
Em sua carreira, Roberto fez grande sucesso na Argentina, onde se apresentou, regularmente, durante anos. O seu jeito boêmio e bonachão tornava-o uma pessoa muito querida no meio musical. Conquistou grandes amizades, inclusive com artistas internacionais, como foi o caso do cantor chileno Lucho Gatica. Há pouco tempo, Roberto ainda se apresentava, eventualmente, em casas noturnas da cidade de São Paulo. Em 2015, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, afirmou:
Flávio Ramalho de Brito é engenheiro e articulista