A convocação para a guerra era esperada e inevitável. Imagine a preocupação da família… Mas, ele não. Estava pronto e às ordens.
Nunca esqueceu a visão de despedida que teve pela janela do trem, na estação ferroviária de João Pessoa, dos pais e da irmã caçula com uns 10 anos de idade. A garotinha tinha uma mão segurada pela mãe e a outra solta no adeus. O semblante tríplice era de cortar coração. O caçula dos homens estava indo para a guerra!
Ainda bem que a guerra não chegou ao Brasil. Mas, lá aonde ele foi, próximo ao litoral de Pernambuco, haviam de permanecer em sentinela. Prontos para qualquer emergência. E ele estava entre os que tiveram sorte de não embarcar para o centro do fogo, na Europa em chamas.
Nunca falou mal do exército. Pelo contrário, não julgava “perdidos” os três anos de sua vida confinada ao quartel, sempre dizendo que lá muito aprendeu. No entanto, jamais esqueceu da cena vista da janela do trem que o levou, naquele fim de tarde, para o estado vizinho.
Passou-se o tempo, Carlos Romero voltou inteiro, fez-se jornalista, e então cronista. Casou-se duas vezes, teve dois filhos, e escreveu nos jornais da Paraíba durante mais de 70 anos.
Certa vez, em uma reunião mediúnica na casa do engenheiro Joaquim Pessoa Silveira, então superintendente do DNER, eis que o período de guerra volta à cena. Ele, já viúvo do primeiro casamento, dava-se com mais frequência ao contato com o mundo espiritual. Quiçá no afã de matar saudades de maneira mais direta.
Assim aconteceu. Um espírito incorporou no médium que estava presente, pouco conhecido nosso, e se anunciou como amigo de papai, do tempo da guerra n aí costa de Pernambuco. Surpresa geral. Até ele ficou curioso. Quando Joaquim perguntou pelo nome e o médium respondeu “cabo Sousa”, o semblante do cronista desanuviou-se. Logo percebemos que o nome soava-lhe familiar. Na mensagem ditada pelo intermediário, totalmente inconsciente, o cabo Sousa falou da especial amizade que cultivaram durante o difícil período de convivência.
Após a reunião, o cronista mantinha-se muito impressionado. Afinal, ninguém ali sabia daquela história, de que ele serviu em Aldeia, muito menos do tal amigo. Tampouco nós, da família, que sequer imaginávamos a existência dessa cidade. Nem em Pernambuco e nem na vida dele.
Não havia, nem há como negar as evidências das comunicações mediúnicas. Desde muito tempo que elas estão aí e ainda existe quem as refute. Esquecem até de que o próprio Jesus exerceu o dom deste proveitoso intercâmbio quando conversou com espíritos, fez alusão a eles nos seus ensinamentos e exorcizou entidades obsessoras que perturbavam pessoas, que lhe eram trazidas para cura.
Certa vez, um espírito infausto fez emudecer um obsidiado. Depois de muito tempo sem falar, assim que o rapaz recuperou a voz, pelos passes do Mestre, os discípulos lhe perguntaram: “Por que não podemos fazer o mesmo?”. Jesus prontamente respondeu: “Porque lhes falta Fé.
E até hoje, vez por outra, ela se ausenta de nós. Mesmo com tantas evidências...
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música