A cidade se reinventa, gerações se sucedem e a história é recontada. Caminhar sob o sol forte faz esquecer que aquela região foi cenário de batalhas, mortes, resistências, rendições. Capítulos da antiga Capitania da Paraíba, criada em 1574, conquistada apenas uma década após e que se estendia até onde hoje se encontra o mais novo estado da federação, Tocantins. O espaço perdido pelo interior foi parar nos mapas das demais capitanias localizadas ao norte, como Ceará e Piauí.
Mas, voltando ao núcleo da antiga Parahyba, a história se faz presente em construções seculares, marco da tradição paraibana de resistir. Das ocupações francesas e holandesas, das injustiças da Coroa Portuguesa, até quebrar os grilhões e embarcar no sonho de fazer parte da nação brasileira.
Liberdade que viu tempos difíceis de lutas, dores. Como as agitações que culminaram na Revolução de 30 após a morte de João Pessoa. E décadas depois as incertezas e desesperanças da ditadura.
Dos tempos prósperos da agitação comercial, centro de todas as decisões dos poderes, passando à mudança de muitos endereços e pelo desaparecimento de vários prédios que, primeiro, viraram ruínas, depois caíram em pó. Aos que resistem em meio ao abandono, a esperança de tentativas de restauração e reocupação.
No Centro Histórico de João Pessoa continuam os gritos e gemidos dos seus primeiros anos, que eram dados por negros e índios ao serem submetidos à escravidão ou dos brancos, como senhores dominantes, agora são silenciosos marcados pelos fantasmagóricos prédios esquecidos, ou estruturas de ilhas de preservação.
Que sejam ouvidos enquanto ainda há tempo. Para o bem da bela cidade berço, da Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, ou Felipeia de Nossa Senhora das Neves, ou mesmo Frederikstad em poder da Holanda, da antiga Parahyba até 1930, ao se tornar João Pessoa.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista