Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse último período da vida.
Vivemos em sua sociedade que enaltece o belo, o perfeito e um corpo envelhecido, por mais esforços feitos, sempre mostrará a passagem do tempo.
Condicionamos a felicidade a bens materiais, ao consumo do que ansiamos, a um apego ao que foi adquirido ao longo da vida. É evidente que uma tranquilidade financeira oferece conforto, mas será que isto é garantia de felicidade?
Ter uma família bem formada, filhos profissionalmente bem sucedidos, netos saudáveis, é um item sempre colocado em primeiro lugar quando se questiona a um idoso se ele é feliz. No entanto, cada um desses familiares terá que seguir seu próprio rumo, e nem sempre a inclusão da pessoa idosa fará parte dessa trajetória.
Volto à procura do que poderá nos fazer felizes nesta fase da vida. Parto do pressuposto, e me incluo nisso, de que não somos felizes o tempo todo, mas que podemos nos empenhar e descobrir a nossa própria fórmula da felicidade.
Por mais que falem que o idoso deva praticar exercícios físicos, seguir uma dieta saudável, se relacionar com amigos e familiares, esquecem de lembrá-lo de que, o que o fará viver mais tempo com qualidade não é o controle da pressão arterial ou o nível do colesterol e sim, a sua essência, aquilo que ele foi ao longo da vida e que pode ser aprimorado com o amadurecimento que vem atrelado à idade: seus conceitos, sua dignidade, seu amor próximo, sua generosidade.
Pode ser estranho, mas o maior bem que fazemos a nós, é quando proporcionamos ao outro um pouco de felicidade, seja ao manifestar empatia, nos momentos que precisamos ouvir os desabafos de quem está sofrendo ou mesmo procurando ser uma pessoa agradável ao meio que convivemos. Nada pior do que relacionar-se com alguém que sempre manifesta sentimentos negativos, que se estressa diante de qualquer dificuldade.
O otimismo, a tranquilidade e a alegria que transmitimos, reverbera para nós. Somos luz e nossa claridade ilumina aos outros e a nós mesmos.
Vamos viver sem a ansiedade de saber tudo, de obrigar-nos a acompanhar todos os avanços tecnológicos, de continuarmos sendo um atleta perfeito ou um especialista em algo que dominávamos no trabalho. O mundo evolui espantosamente, mas ninguém é obrigado a evoluir na mesma proporção.
Vamos dar mais tempo para as coisas que são prazerosas para nós. Eu, por exemplo, adoro pintar paredes, costurar, escrever, comer pastel com caldo de cana... pense no que você gosta também.
Enfim, lembro que envelhecer envolve o corpo, mas primeiro, envolve o coração e a alma. Se você tem alguma fé a reforce, pois, ela poderá lhe fortalecer em momentos difíceis. Acima de tudo, ame-se com intensidade e se existe alguém ao seu lado que pode lhe proporcionar amor, solte-se sem medo.
A idade é apenas um número, nada determina qual a melhor época para se apaixonar. Felicidade existe sim, mora dentro de nós e para obtê-la, basta encontrar, valorizar e cultivar aquilo nos faz feliz.
Hoje, dia 01 de Outubro, comemora-se o Dia Mundial do Idoso. Que venham mais datas comemorativas para tentar sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e o necessário cuidado e assistência a esta faixa da população.
Cristina Lugão Porcaro é bacharela em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora