As cartas são o antídoto literário da efemeridade da vida. Segundo Goethe: “o mais significante memorial que uma pessoa pode deixar”.
Poucas cartas sobreviveram dos campos de concentração construídos pelos nazistas para exterminar o povo judeu durante o Holocausto.
Aqui está uma nota curta quase indecifrável, da prisioneira tcheca Vilma Grunwald para seu marido médico Kurt. Ela, Kurt e seus dois filhos, John e Frank (Misa), foram presos como milhares de inocentes famílias judias transportadas para Auschwitz.
Na seleção, o médico da SS Josef Mengele envia o coxo John para a esquerda - para execução instantânea no campo de extermínio. Sua mãe, sabendo o que isso significava, opta por se juntar a ele em um ato de amor maternal.
Escreve então, uma nota momentos depois de ambos terem sido separados dos outros dois. Em seguida, a entrega a um guarda e pede que ele transmita ao marido Kurt, que seria colocado para trabalhar no campo de trabalho escravo vizinho como médico responsável pela restauração de prisioneiros feridos a um estado em que poderiam trabalhar novamente. Vilma e John são mortos na câmara de gás momentos depois.
Surpreendentemente, a carta a seguir chegou a Kurt, que sobreviveu ao Holocausto, e após sua libertação se encontrou com seu filho, também sobrevivente Frank. O original desta carta está no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, localizado em Washington, DC, doada pelo filho dos Grunewald.
"Kurt, meu único e querido, no isolamento estamos esperando pela escuridão. Consideramos a possibilidade de nos escondermos, mas decidimos não fazê-lo, pois achávamos que seria inútil. Os famosos caminhões já estão aqui e estamos esperando que comece o embarque.
Estou completamente calma. Você - meu único e querido, não se culpe pelo que aconteceu, era o nosso destino. Fizemos o que podíamos. Fique saudável e lembre-se de minhas palavras de que o tempo vai curar - se não completamente - então - pelo menos parcialmente. Cuide bem do garotinho de ouro e não o estrague muito com o seu amor. Ambos - continuem saudáveis, meus queridos. Estarei pensando em você e em Misa. Tenha uma vida fabulosa, devemos embarcar nos caminhões.
Para a eternidade, Vilma.”
Infelizmente, a revolução tecnológica que nos deveria levar a um mundo de fraternidade, paz e segurança, está nos tornando piores, com um crescente ódio entre as pessoas, incentivados pela desinformação constante por meio dos meios de comunicação em massa.
Antes de tomarmos a vacina contra esta terrível pandemia que nos assola, precisamos nos imunizar contra a avalanche de notícias falsas que recebemos diariamente.
Esperamos que esse triste exemplo nos sirva de lição para que as tragédias da história não se repitam e a humanidade possa desenvolver e aplicar a bondade que está imbuída no homo sapiens.
Sérgio Rolim Mendonça é Engenheiro Sanitarista e Ambiental