O bom combate exige antes de tudo seriedade. O humor de mau gosto, a zombaria despropositada, o escárnio irresponsável, só demonstram ausência de inteligência. Quem tem poder de argumentos não precisa se valer da troça para fortalecer uma opinião que defenda. Esse tipo de atitude, sempre na brincadeira, concorre para que seus autores não sejam levados a sério. Assim perdem respeito e credibilidade, o que dificulta muito a aceitação do que pretendem colocar como armas de luta contra algo que não aceitam.
Muita gente gosta de brincar com coisa séria e não enxerga que, ao contrário do que deseja, fragiliza suas ideias e pensamentos. A agressão gratuita, feita unicamente com o propósito de ridicularizar, é própria dos que se ressentem da aptidão para o debate com lógica e bom senso. Ao invés de conquistarem adesões às suas causas, afastam os que encaram a vida com responsabilidade. Os brincalhões, muitas vezes, são pessoas influenciadas, que, ao se verem impossibilitados de justificar suas opiniões, preferem partir para o gracejo, a galhofa.
Isso é ruim para os dois lados. É preciso que haja sempre oposição inteligente e séria, porque, do contrário, a força ficará sempre pendendo para o lado dos que não brincam em serviço, mesmo que eventualmente cometendo erros e adotando posturas que mereçam críticas e censura.
Fico triste quando vejo a discussão política se voltando para o desacato, a provocação na base da ofensa pessoal, o vitupério. Quero o debate de ideias, de pensamentos, de avaliações críticas, sobrepujando o ódio, o rancor, a antipatia induzida, a aversão estimulada. Nesse confronto entre a ira e a razão, que predominem a sensatez e a inteligência.
Há um frase judaica que diz: “quem dá expansão ao seu ódio, destrói a sua própria casa”.
Rui Leitão é jornalista e escritor