Testemunha de conversas e silêncios, de sorrisos e lágrimas, de encontros e desencontros, ele foi descanso, pouso para o corpo e alma. Guarda segredos impregnados de atores que envelhecem a cada dia. Fez parte de jardins, teve grama sob os pés, presença dos passeios, dos segredos quase confessionário, dos passantes. Era vizinho de castanholas, tinha flores por perto, era amigo de soldadinhos.
Mesmo fixo, era alegre devido à composição do espaço envolta. E devolvia simpatia apesar de feito com materiais duros, rígidos, resistentes. Parece ter vindo de longe, dos lugares e dos anos. Ali, naquele endereço antigo era participe dos movimentos, peça igualmente ornamental e prática.
Das pessoas, a dureza da sua formação era disfarce para o aconchego dos seus detalhes. Forma diversa, cheia de cuidados, ainda tem garbo, é pomposo. Encosto, desenhos esculpidos, estilo que nas atualidades da vida não se pára mais para fazer como arte. Tudo é reto, rápido, sem pausas para se poetizar, quase maquinal, imperceptível, até acentos caíram.
Definitivamente, não! Quem o escolhesse para sentar dificilmente o faria sem notá-lo. Do encosto aos pés, dos apoios ao assento, tudo nele é especial e o era mais ainda em tempos idos. Encaixava com o cenário. É um ser bucólico feito praça de cidade interiorana, misto de algo colonial, gótico, de outrora, talvez até excessivo, enfim, diferente.
Resistente às chuvas, ao sol, à poeira, aos ventos e às mudanças, inclusive, as que foi vítima. Ele faz falta na pracinha interna. Era mais que decorativo, hoje quase não é percebido. O banco de pedra cheio de ornatos, misto de armação de cimento e ferro, mas finalizado com esmero, como se fora poesia, hoje junta poeira, nem recebe visitantes e até é visto como empecilho no estacionar de carros.
Uma mangueira solitária lhe faz sombra durante as manhãs e companhia todas as horas, com visitas aleatórias de sagüis em certos dias, morcegos todas as noites. Sob os pés, a terra batida. Mas sem uso como assento ou confessionário, largado no fundo de um quintal onde há mais carros que gentes, virado de frente para um muro que encobre o por do Sol, parece estar de castigo. Se ontem foi festa, hoje é pedra fria, quase lápide de si mesmo.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista