Quando nestes meses a paisagem no nosso redor está destroçada, a nossa esperança brota na meditação sobre a mensagem cristã, “a poesia e a arte para acalmar a dor e a ansiedade”.
O que seria a primavera imaginária, como a estação que começou e se prolongará com o verão, que poderia ser estação amena, chega com a desordem da memória, a mesma que o poeta Eliot contemplou, com desejos pendentes.
A atitude de uma instituição como a UFPB que seria encarregada de construir novos saberes, opera da maneira como procedeu em relação aos belos e expressivos azulejos, os quais ornamentavam certo espaço de sua área interna, sob a alegação de que estavam “velhos”, causou repugnância.
Quando vândalos protagonizam barbárie contra uma expressão, a exemplo da obra de arte criada pela genialidade de um artista, é o seu próprio aniquilamento que anuncia. A destruição de Roma pelo tirano Nero tem a mesma crueldade de quem destrói pequenos registros da própria história, por menor que sejam esses apontamentos. O efeito e a crueldade têm a mesma proporção de quem risca a parede de um prédio antigo ou a pintura de um artista, ou que arranca azulejos. A abrangência do crime é a mesma, a brutalidade é do mesmo tamanho.
Igualmente, dadas das proporções, também acontece quando uma instituição mantida com os nossos impostos, destrói ou deixa ao desleixo uma obra de arte que representa nosso sentimento de pertença.
Lembro que tempos atrás me deparei com cena lastimável, que me causou semelhante desgosto, ao ver os azulejos destruídos na UFPB. No antigo prédio da prefeitura municipal, no Varadouro, encontra-se riscada a pintura do artista plástico Flávio Tavares, apesar do pedido de restauro.
Pintado com esmero, o quadro em foco descreve a história da Paraíba desde os primórdios de quando colonizadores e indígenas celebraram acordo de pacificação, dando início à construção da cidade. Inúmeros prédios e monumentos de relevante valor histórico são pichados na cidade, mas tudo ficando na impunidade. Quando não, abandonado pelos órgãos que deveriam protegê-los.
Quem pratica essas barbaridades continuam sem punição, e o mais grave, o poder público não adota nenhuma ação em defesa do nosso patrimônio.
Parece não existir limite na fúria nefasta desses selvagens, fruto de uma escola que não orienta, de um sistema de governo que transformou em borra a dignidade humana.
Destruir ou abandonar uma obra de arte, de imenso valor cultural, na qual se registra a história de nossa gente, é um crime de imensurável dimensão, merecedor de repúdio.
É preciso compreender o sentido e a importância da arte que completa e transforma a alma das pessoas. Compreende-se o valor da arte quando a olhamos com a luz da alma. A alma vê e conhece o esplendor da beleza que nos rodeia e alimenta o espírito.
Desde quando a civilização saiu das cavernas, sem perder a mesma sanha, a criação artística é pensada como espelho da alma, com a finalidade de plasmar a busca da beleza.
A literatura, a pintura, a fotografia e outras formas de expressão transformam o espírito e o coração das pessoas, por isso não podem ser destruídas. A arte transforma a tristeza em alegria.
Punição para quem danifica uma obra de arte é um grande passo. Caso contrário, novos Neros e novos talibãs vão continuar destruindo obras de arte. Junto com a punição, venham mais investimentos em educação. Não tem outro caminho.
José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP