Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por eles que ainda faíscam em lugares ermos, salpicando suas pobres emanações de humildes claridades.
Existe uma perigosa indiferença pelas coisas da Criação. Até a pobre lua inteira ou comida em parte, qual queijo redondo no prato do céu, é pouco apontada, inclusive pelos namorados. Perdeu o sentido, hoje, e se torna até ridículo mostrar as belezas da constante exposição do nosso satélite, a espaço aberto: casal de enamorados não está ligado em claro de lua. Clair de lune.

As matas, os rios, os mares. Uma infinidade de vozes divinas e muitos corações surdos. Uma fauna e uma flora que sofrem a pena de morte tantas vezes denunciada pelos ecologistas. Emergiu e ficou uma mentalidade de que tudo é inesgotável. Engano, tudo se esgota. O murmúrio que se vai avolumando para um clamor mudo não sensibiliza ninguém, nem campanhas. Rende pouco efeito o alerta para termos o cuidado em poupar alimentos e água. Árvores tombam e animais são sacrificados, numa imolação devastadora e sem tréguas, no mundo inteiro. Tudo porque as mentes estão embotadas, a afeição pelo universo no qual estamos inseridos mingua e se derrete, ao calor de um sol causticante, geleiras caem como imensos edifícios e as águas dos mares se avolumam.
A humanidade está preocupada com problemas de menos importância. A mentalidade preponderante se instala na ânsia de produzir, consumir, lucrar. De tal atitude perigosa e alto risco resulta um sacrifício que já desponta, anuncia e acontece. As chagas dos seres, de qualquer espécie e raça, destruição, apocalipse, tragédia anunciada.
O alerta simbólico é formado a partir da pouca atenção dada à lua, ao vagalume, à flor. Basta cada qual ser um Poeta de Restauração e Conservação do tesouro que nos foi presenteado por Deus, pela Natureza. Basta redescobrirmos a sensibilidade que nos é inata e, através dela, reconstruirmos o planeta azul que já está se tornando opaco. Chega de egoísmo petulante, da busca pelo objeto de consumo. O sentido maior da vida é outro.
José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista