Nunca mais foram vistos os meninos com os carrinhos de rolimã. Subiam a ladeira da Borborema, aos risos, carregando os artefatos sob os braços. As geringonças primitivas: um lastro para sentar, dois eixos para sustentar as rodinhas.
No da frente apoiavam os pés a comandar a descida pela calçada escarafunchada, de cimento falho. A saída em declive era ao lado do antigo Colégio de N. S. das Neves. Desembestavam de lá os carrinhos e os patinetes que rolavam pelo impulso das rodinhas azeitadas.
Corrida desengonçada, uns rolando, outros saindo ao calçamento de paralelepípedos mal postos e antigos.
Terminavam ao lado da mercearia de seu Francisco, já na esquina da ladeira com a Rua da Areia. Saltavam suados, arfantes, suspirando o embalo ansioso, desmesuradamente arriscado, alguns olhavam o caminho percorrido, consideravam-se heróis pela coragem em se lançarem a uma aventura apaixonante, porém dotada de extrema possibilidade em causar acidentes os mais perigosos.
Postavam-se transeuntes que subiam a Borborema em direção à Catedral, freiras ficavam tocando as contas dos terços, os experientes amadurecidos a alertar sobre todas as mazelas que poderiam acontecer. Mas os meninos nem se ligavam.
O bom era aproveitar a tarde enxuta para mostrarem destrezas em pilotarem os carrinhos, imaginando estarem desafiando a tudo e a todos, inclusive se valendo da lei da gravidade para impulsionarem as engenhosas máquinas. A calçada escorregadia, lustrosa de passadas ajudava no movimento descendente.
Hoje, se ausentaram e se encantaram noutras paragens, cada qual seguindo seu trajeto. Ficou a saudade da algazarra da disputa pelo primeiro lugar do campeonato. A perseguição da faixa e do troféu, este era um vaso grande, vistoso, pintado cor de ouro, tendo dizeres enaltecedores ao vencedor da vitória. A ladeira esfriou sem eles. Ficou mais deserta. E faltam os gritos e risos na paisagem. Os patinetes e carrinhos recolhidos.
Onde estariam os meninos da Ladeira da Borborema?...
José Leite Guerra é bacharel em direito, poeta e cronista