Foi assistindo a uma palestra do Raul Marinuzzi que acreditei, mais uma vez, em certas mudanças futuras que darão estratégias de polimento ao comportamento humano, quando ligado a grandes negócios.
A meta do seu tema foi o espírito. Não o do negócio, o chamado “espírito da coisa”, mas o espírito do homem de negócio, o que me fez antever as fabulosas mudanças do modernismo aplicadas às atividades do exercício trabalhista, dentro de uma visão quântica, holística.
Segundo o próprio Raul Marinuzzi, “em breve tempo o que mais vai valer é o espírito.” Ele que, além de administrador, é consultor de recursos humanos, maestro, ex-diretor de orquestra sinfônica e autor de mais de uma dezena de livros sobre o assunto, instalou uma miniorquestra sinfônica no palco do Teatro Paulo Pontes, para ilustrar a sua palestra. No final, uma nota geral sintetizou o seu objetivo, quando, em tom maior, trocou a palavra gerência por regência. E haja harmonia em tudo!!!
Com isso, conceituou a verdadeira qualidade humana, relacionando-a ao trabalho, ratificada, depois, pela professora Leila Navarro, da USP, especializada em filosofia da homeopatia holística, que afirmou que: “O corpo humano não só se divide em cabeça, tronco e membros. Na verdade, não são apenas estas três partes, mas um organismo ligado em profundas e complexas relações que, embora pouco compreendidas, são permanentes em nossa vida”.
Daqui a mais um tempo, com essa nova visão evolutiva, estarão extintas, senão minimizadas, acredito eu, as imagens do autoritarista truculento, do arrogante, do formal, dos que sublimam a hierarquia e suas manifestações tóxicas, do caciquismo, cuja respiração ofegante, altera o processo de interação e o equilíbrio da sobriedade.
A consequência disso não mais deixaria escurecer a dimensão do homem em relação ao trabalho. Não sei quando. Sabe-se que a estratégia, a excelência, a inovação e a competência devem se fundir com os hábitos culturais e, inevitavelmente, com as funções biológicas e sociais do homem no exercício de sua existencialidade.
Quantas vezes o artista, por exemplo, é discriminado, vilipendiado e injustiçado dentro de seu ambiente de trabalho? Por ser diferente das outras pessoas (e isto não significa querer ser diferente), ele desenvolve o seu papel, dando a sua profícua parcela de participação. O artista é, certamente, uma peça importantíssima dentro de uma empresa. Os maestros da administração, esses é que às vezes não sabem manusear as suas batutas. E nem sequer tocam de ouvido, e desentoam os seus instrumentos neurais.
Enquanto lembrava tudo isso, fazendo-me revigorar a fé na mudança de hábito empresarial, numa indústria ou mesmo dentro de uma repartição pública, lia num jornal a notícia de um livro de Richard Carlson, um psicólogo americano, à época com 36 anos, enfocando a convivência melhor do homem no cotidiano, capaz de proporcionar maior informalidade e simplificação da vida.
A incidência de tantos estudiosos no assunto, a afirmarem que o comportamento formal é uma mediocridade, dá-nos a plena certeza de que estão mesmo tentando mostrar soluções positivas e modernas dentro desse campo. O que é metódico (e ser metódico não é o mesmo que ter bons métodos) não leva o homem ao laço logosófico de seus atos, ou à completude prazerosa de suas realizações profissionais. Ser-se dentro do que urgentemente está sendo colocado é retomar o que está há muito tempo perdido dentro do ser humano: o seu próprio ego cósmico. A ambição pelo metal, que avassala os sonhos, a paz, e o sono, pode ser substituída por uma lepidez, pela harmonia e pelo contentamento do espírito. Tudo dentro da articulação do trabalho, incluindo o gesto amoroso, conduzindo juntas a seriedade e a serenidade sobre o trilho de compatibilidade.
Lembremos que essa luta pela interiorização do homem é milenar. Do escritor alemão Herman Hesse, sabemos: “Não há por que fazer a este cômico mundo a honra de levá-lo a sério.” Entendo que uma coisa é ser bizarro, outra é ter bizarrice. O que é muito sério e formal é tenso, é encarcerador e é estéril para a serenidade e a contemplação que, somadas, dão eminências ao homem. Essas duas atitudes alcançáveis, emanadas do natural e do espontâneo, não se casam com a rigidez impulsiva (ou compulsiva) nem com a severidade imposta e contaminada pelo vírus da “prepotência”. Ninguém nunca encontrará na prática da descontração uma justificativa significante, senão pelo espírito. O que interessa mesmo é reconstruir o ser humano mais pacífico e sóbrio dentro de si e do seu universo ao redor. Eis o caminho certo daqui, dali e de muito mais além.
Graças aos sábios, continuamos a ouvir lições como esta: “Correr não adianta. É preciso partir a tempo”, (do fabulista francês La Fontaine). Esse “partir a tempo” revela a planura das condutas universais, coisa que não chega a ser, uma norma de trabalho, mas a frugalidade interior necessária ao exercício do trabalho em comum. Portanto, isso representa o mourejar tenro e produtivo, ao mesmo tempo.
Afinal, mais vale ouvir o substrato dessas lições do que ler a postura alavancada que se entrona em posições muitas vezes insanas, braço esquerdo (e volúvel) caído sobre o espaldar, posição privada, dedo sempre em riste e cabeça oca, sem saberem que um dia serão todos esquecidos pelo tempo, sem memória e qualidade nenhuma.
Saulo Mendonça é escritor, poeta e haikaista