Um dos maiores problemas que assola a realidade contemporânea é associar a felicidade com eterno clima de boate. Num contexto matrizado pela desenfreada busca pelo sucesso, seja a qual preço for, acentua-se um cotidiano marcado pela frustração advinda da transitoriedade de frágeis relacionamentos e dificuldades em conviver com as adversidades da vida.
Pais frustrados apressam o fim da infância dos filhos, com cobranças exageradas e tarefas exacerbadas, na vã ilusão de que formarão seres perfeitos e talhados para superação de recalques paternos. Não dando conta de tanta cobrança, os filhos são fragilizados e, não tendo os limites reconhecidos, apelam muitas vezes para o suicídio.
É que cobranças exacerbadas para um ser em formação, sobretudo psíquica, atentam contra o sentimento de autoestima, levando o jovem a se sentir um ser inútil e incapaz de, sequer, ter grandes sonhos. Tal sentimento de inutilidade tem induzido até a se atentar contra a própria vida. Não é à toa que em setembro são disseminadas campanhas para a prevenção do suicídio.
No outro lado, não sei se mais grave, pais extremamente liberais deixam “correr frouxo”. Querem ser “amiguinhos” dos filhos e tudo fazem para que os “bichin” não enfrentem nenhum problema. São esses que até processam professores quando estes lhes colocam notas baixas ou tentam discipliná-los. O resultado é a formação de egoístas, orgulhosos e frágeis. São presas fácil para o submundo, pois, pai que não educa, o crime toma conta.
Sem percepção de limites, acreditam que o mundo é uma bricolagem da diversão, do consumo e do prazer ilimitados. Assim pensando, tornam-se presas fáceis do consumismo exacerbado o qual é associado ao conceito de felicidade.
Não encontrando a felicidade em automóveis de luxo, roupas de grife e restaurantes sofisticados, apelam para substâncias estupefacientes que, na maioria das vezes, levam a uma espécie de suicídio “voluntário”.
Tudo é potencializado pelo mau uso das tecnologias da informação que regam a flor da futilidade. A vida se torna uma eterna alvorada de felicidade exposta em vitrines do ego, por intermédio das redes sociais. Tudo parece reviver uma saudosa chanchada da Atlântida na qual tudo termina em carnaval e futebol, no mundo da selfie postada, com rostos eternamente felizes. Cada vez mais, a realidade torna-se temível de ser enfrentada.
O adiamento do encontro consigo mesmo tem levado à procrastinação para o ingresso no trabalho consciente, único instrumento para o desenvolvimento criativo das ilimitadas potencialidades da alma humana.
Num momento complexo, assinalado por um novo modo de produção, fundamentado na flexibilidade do trabalho, exige-se mais criatividade e capacidade de iniciativa. É o fim das quimeras e dos supostos milagres obrados pelos “anjos da boca murcha”.
Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista