Estações
Elã havia. Visita às estrelas,
Pássaros dançantes
Embriagados de voos.
Dias como um tapete
Bordado de eternidade
E noites de sabores e perfumes raros.
Todas as portas se abriam para o vale
Do êxtase, das vertigens,
De todas as cintilações do céu.
Um soco, quando o inverno chegou
Enterrando o sol
No gelo...
A primavera veio sem flores!
Raízes inférteis vincaram o Jardim
De cacos cortantes.
Inventário
Neste espaço, o silêncio me pertence
E não só ele, os recortes azuis do céu, as estrelas
As árvores, os pássaros, borboletas...
O vento também me pertence
Solfejando antigas cantigas de ninar
E músicas de deixar o coração em festa.
Um piano em notas líquidas
Como um rio se diluindo, para correr mais leve
E alcançar a memória de um tempo singular.
Acúmulo de coisas nem sempre percebidas
Por vezes fragmentadas
Como num quebra-cabeça.
Pertencem-me todos os passos dessa história.
Todas as possíveis paisagens e fotografias
Como um filme em que vejo, repetidas vezes
As cenas em que atuamos juntos.
Pertencem-me instantes raros, teus sacramentos,
Gestos, expressões, indelevelmente tatuados em mim
As flores que tanto amavas rosas e jasmins
A falta, o frio...
E mais que tudo, que tudo, as saudades
Que florescem em imenso bouquê
No sombrio jardim.
Passo a passo
Enfrento, tateando, a bruma espessa
Errante
E sem nenhum escudo.
Errante, passo a passo em campo minado
À mercê de explosões.
Coração mudo.
O medo, águas turvas, entorpece a razão.
Nenhum sinal!
Minha mão não encontra outra mão.
Cantaria o hino dos valentes
Mas só sei o começo
Desconheço o fim...
Ando, vou em frente, só ando
Sem saber nada, sem dizer nada.
O meu coração fala por mim.
Pontaria
Um sonho, um lugar
Uma noite estrelada
Uma canção no ar
Uma taça de vinho
Um leve torpor
O canto do vento
Pensamentos...Tempestade!
E uma ponta de espinho
No alvo saudade.
Presença
Atravessa a névoa dessa manhã ilhada,
Dissolve a tarde
De avessos e agonia
E vai como um barco, ondulando nas águas,
Transformar meu pranto em prece
Tua imagem adorada,
Meu filho,
Sorrindo
Sobre os resíduos do dia.
Elã havia. Visita às estrelas,
Pássaros dançantes
Embriagados de voos.
Dias como um tapete
Bordado de eternidade
E noites de sabores e perfumes raros.
Todas as portas se abriam para o vale
Do êxtase, das vertigens,
De todas as cintilações do céu.
Um soco, quando o inverno chegou
Enterrando o sol
No gelo...
A primavera veio sem flores!
Raízes inférteis vincaram o Jardim
De cacos cortantes.
Inventário
Neste espaço, o silêncio me pertence
E não só ele, os recortes azuis do céu, as estrelas
As árvores, os pássaros, borboletas...
O vento também me pertence
Solfejando antigas cantigas de ninar
E músicas de deixar o coração em festa.
Um piano em notas líquidas
Como um rio se diluindo, para correr mais leve
E alcançar a memória de um tempo singular.
Acúmulo de coisas nem sempre percebidas
Por vezes fragmentadas
Como num quebra-cabeça.
Pertencem-me todos os passos dessa história.
Todas as possíveis paisagens e fotografias
Como um filme em que vejo, repetidas vezes
As cenas em que atuamos juntos.
Pertencem-me instantes raros, teus sacramentos,
Gestos, expressões, indelevelmente tatuados em mim
As flores que tanto amavas rosas e jasmins
A falta, o frio...
E mais que tudo, que tudo, as saudades
Que florescem em imenso bouquê
No sombrio jardim.
Passo a passo
Enfrento, tateando, a bruma espessa
Errante
E sem nenhum escudo.
Errante, passo a passo em campo minado
À mercê de explosões.
Coração mudo.
O medo, águas turvas, entorpece a razão.
Nenhum sinal!
Minha mão não encontra outra mão.
Cantaria o hino dos valentes
Mas só sei o começo
Desconheço o fim...
Ando, vou em frente, só ando
Sem saber nada, sem dizer nada.
O meu coração fala por mim.
Pontaria
Um sonho, um lugar
Uma noite estrelada
Uma canção no ar
Uma taça de vinho
Um leve torpor
O canto do vento
Pensamentos...Tempestade!
E uma ponta de espinho
No alvo saudade.
Presença
Atravessa a névoa dessa manhã ilhada,
Dissolve a tarde
De avessos e agonia
E vai como um barco, ondulando nas águas,
Transformar meu pranto em prece
Tua imagem adorada,
Meu filho,
Sorrindo
Sobre os resíduos do dia.
Milfa Valério é professora e poetisa