Contam que há uma loja onde compram e vendem tempo. É uma loja agitada, pois, além de vender, ela também faz permutas. Se alguém tiver um tempo sobrando, pode oferecê-lo a outro que precise de mais tempo.
Uma moça estava apaixonada e por mais tempo que ficasse ao lado de sua paixão, achava pouco. Comprou várias horas na loja do tempo. Nada adiantou, o tempo foi infinitamente pequeno. Depois de umas três ou quatro compras, com o dinheiro escasso, desistiu. Resolveu perguntar a alguém entendido em tempo o que poderia fazer. Um senhor já bem idoso a ouviu com atenção. Falou que o tempo para apaixonados não funcionava, não adiantava comprar, armazenar, estocar.
O tempo sempre seria pouco. Com sua sabedoria, disse para ela aproveitar intensamente todos os momentos e que depois, os relembrasse. Assim, estaria duplicando as sensações que a paixão lhe despertava. Ela o fez e as sensações realmente se multiplicaram através da memória, mas sendo apaixonada e ansiando por corpo e alma do amado, nunca ficou plenamente satisfeita.
A paixão é mesmo assim, estranha. Diminui o tempo, faz a mente se encher de relâmpagos, raios, acelera o corpo, embaça o senso e sendo intensa, nunca se satisfaz. Porém o mais complicado, é que os apaixonados só se enxergam no paraíso, seja lá onde fica.
Tarefa complexa é descrever por que surge a paixão. Primeiro há o encantamento, depois o acalanto ao coração que esteja com espaço desocupado. Mais adiante, os olhos ficam vazios, há uma intensa e indefinível falta, fome, sede, quando estão separados. É a incompletude brotando.
Como descrever um pulsante coração, ou a voragem dos dias que se consomem em esperas? Incansáveis, os apaixonados atravessam desertos, caminham em pontes, em caminhos estreitos para pingarem gota a gota seus beijos. Mais do que satisfazer-se com prazer, por uma dessas artimanhas da vida, a paixão insaciável não se contenta em tomar o coração, se infiltra em todo corpo, da cabeça aos pés.
Engraçada a paixão. Faz com os apaixonados não se importem com os alarmes dos riscos que possam ter, os desencontros que possam viver, as dores que possam sofrer. Nada disso importa. Querem habitar a fotografia um do outro, sussurrar em dialetos próprios, ouvir músicas românticas, respirar o mesmo ar.
Feliz de quem tem uma paixão. Sabe a intensidade do que é viver entre o sono e o sonho, renasce todos os dias entre suspiros de saudade e é fácil achá-los, pois as paredes por onde passam os apaixonados, têm corações desenhados a dedos, flechas traspassando-os e nomes entrelaçados. Atentem-se às portas de banheiros públicos, espelhos e árvores. Nestes lugares, há sempre uma Maria que se declara apaixonada por um João. Portanto, se você tem tempo sobrando, seja gentil e solidário com os apaixonados, doe a eles este tempo. Ajude-os a escrever uma linda história que eles esperam, e terá a eternidade por limite.
Cristina Lugão Porcaro é bacharela em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora