Súbita e casualmente cogitada, correu num rastilho, como se aguardada há tempos, a candidatura de Ângela Bezerra de Castro para concorrer à presidência da Academia de Letras, na próxima segunda-feira, 14, 79º aniversário da entidade.
Como se deu? Conversávamos o habitual das nossas afinidades, isto há quinze ou vinte dias, quando não senti na voz da amiga, pelo telefone, o ânimo de sempre.
O recolhimento forçado, ainda mais nas circunstâncias de uma mulher de comunicação afortunada no melhor sentido, mas solitária em sua intimidade, levou-me a indagar, mesmo sem lhe ouvir queixa: “Estás com saúde, cheia de energia, mas com a voz de quem passou a noite atenta às passadas soturnas do Fantasma de Canterville.”
Ela sorriu e eu aproveitei: “Por que não te dispões a assumir a cadeira de tua vida, a de professora, na presidência da Academia? Lá não há o perigo do aglomerado contagioso, não é nenhuma praia e, quem sabe (!) se não conseguiremos motivar o sócio a ter na APL não só um recinto solene de eventos como uma cultura de todos os dias?”
“Luiz Nunes, Sales e Itapuan já me fizeram a mesma pergunta” – reagiu sem adesão. “E por que não passamos o bastão à frente?” – insisti.
Vice-presidente em dois mandatos de Damião Cavalcanti, indaguei dele, faltando um mês para o fim da gestão, como se dariam as eleições? Ele respondeu, atarefado, que "a APL precisava de um moço, um gestor dinâmico", e ficou nisso. Entendi que o moço fosse de espírito, de voluntarismo independente da certidão de idade, e vi em Ângela, na alternativa dos precursores de sua candidatura, a retomada de um sonho anterior a todos nós – o de participação efetiva, solidária e responsável de todos os componentes da entidade no seu funcionamento administrativo e cultural. Desde muito o peso da APL recai em seu presidente. A aceitação da professora Ângela foi sob essa condição, a de não haver uma só iniciativa programática isolada, por mais oportuna ou alvissareira.
Entre os objetivos propostos, dados a conhecer, desde ontem, cabe destacar : “Conclamar todos os sócios efetivos a uma produtiva e constante participação acadêmica; considerar, como princípio, que a APL é constituída por 40 sócios efetivos, com as mesmas responsabilidades e direitos sobre a instituição; reeditar, com periodicidade, a Revista da Academia de Letras; estabelecer vínculo de cooperação com a escola pública, de modo que a APL possa contribuir com o aprimoramento do nível de Leitura de professores e alunos; integrar, cada vez mais, a APL à comunidade, através de eventos que propiciem o aprofundamento e debate de temas literários ou de cultura geral; firmar convênios com instituições públicas ou privadas para a manutenção da APL e cumprimento de sua elevada destinação como entidade de utilidade pública; restabelecer as reuniões acadêmicas mensais, não apenas como oportunidade de congraçamento entre os confrades, mas também como forma de pensar permanente e coletivamente a APL, através da interação e do diálogo informal.”
É isto aí. Nem mais nem menos.
Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL