Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro, depois da sua aula-conferência tendo como tema central a personagem Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, respondendo a uma indagação dela de que muitos começam e nunca terminam a leitura deste livro emblemático, penitenciei-me. Disse-lhe que em três ocasiões coloquei de lado o monumental romance, um dos cem principais livros até agora escritos no Brasil.
Com o olhar de educadora que nunca deixou a convivência com a literatura e outros saberes, ainda mais quando foi eleita para a Academia Paraibana de Letras duas décadas atrás, aconselhou-me a voltar à leitura deste romance de Rosa, mesmo que na época me parecesse enfadonho percorrer aquelas páginas. Na mesma noite iniciei minha nova caminhada, com caderno e lápis ao alcance da mão.
Na sua conferência por ocasião do "Pôr do Sol Literário", deu-nos pistas que ajudam a andar sem tropeços pelas veredas apresentadas pelo romancista nascido em Minas Gerais, para a convivência com os seus personagens, agora, numa nova visão que transformou deliciosa leitura.
Ângela revelou que em um período de vinte anos fez quatro leituras de “Grande Sertão: Veredas”, sempre descobrindo novas emoções, e desnudando os personagens. Mas eu, ao contrário, três vezes recoloquei o livro na estante. Depois daquela conversa com a mestra, fui atrás de Antônio Candido, referência da crítica sobre Guimarães Rosa, para abalizar ainda mais minha nova leitura, e descobri que ele tinha lido este livro uma dezena de vezes, saindo de cada leitura diferente de como iniciou.
Isso me motivou para uma leitura lenta, no meu retorno a esta obra, tentando viver os encantos na longa viagem pelos sertões. Logo redescobrindo os atrativos da narrativa que a professora paraibana e o mestre Candido ajudaram-me a entender.
Remexendo em papéis antigos, descobri que apesar de minhas leituras pela metade, havia colocado no caderno de papel pautado pequenas anotações a respeito de Guimarães e do seu romance. Há duas décadas escrevi que a arte de narrar do autor de “Sagarana” empolgava. Notas de um leitor principiante e apressado.
Com seu abrangente entendimento do assunto, a professora Ângela Bezerra de Castro alumiou um novo modo de ler este romance e de olhar Diadorim de maneira diferente, porque se trata de personagem que retorce nosso estado de emoção, como suave neblina a nos umedecer. Também apresenta as chaves de leituras que ajudaram na compreensão dos sertões descritos no livro.
Se minhas primeiras leituras foram tentando emendar a narrativa, retornei ao livro com o desejo de fazer integralmente a travessia, seguindo as veredas apontadas por essa estudiosa da Literatura brasileira, presidente da Academia Paraibana de Letras.
Para quem aprecia a boa literatura, as cenas quando o autor revela a identidade de Diadorim são páginas antológicas da literatura universal. Ao final, ficamos com a sensação de que Diadorim é, realmente, a grande personagem feminina da nossa Literatura.
José Nunes é poeta, escritor e membro do IHGP