Sou um cronista do cotidiano. Nos textos que dou publicidade procuro refletir sobre os mais diversos aspectos do comportamento humano, na tentativa de encontrar a compreensão para atitudes, sentimentos e emoções, que dominam nossa vivência. Sem a pretensão de me colocar como um filósofo, vagueio pela capacidade de pensar, formulando conceitos, dialogando comigo mesmo e construindo opiniões e definindo convicções sobre a vida.
Na consciência cidadã não posso me omitir na manifestação do que penso em relação ao que chamamos de conjuntura política. Marcar posição conforme minha forma de ver as coisas diante dos fatos que fazem a realidade contemporânea do nosso “fazer política”. E faço isso sem medo, sem me sentir envergonhado por defender minhas ideias, porque resultam de algo que preservo a qualquer custo, a liberdade de pensar. Claro, que posso cometer enganos, incorrer em equívocos, cometer falhas de interpretação, mas são conclusões nascidas da minha própria consciência, lutando para não sofrer influências alheias, nem ser direcionado a refletir de acordo com o que as aparentes maiorias se afirmam.
Sou aberto ao diálogo, ouvinte atento dos argumentos em contrário do que defendo, e não terei nunca qualquer constrangimento em admitir que esteja errado se for convencido com fundamentos esclarecedores. No entanto, isso jamais acontecerá quando, ao invés do debate, for provocado a entrar numa discussão acirrada, numa guerra de palavras com ausência total de racionalidade, imperando exclusivamente a agressão gratuita, o xingamento, o desrespeito, a ironia. Decidi não participar de “bate boca” alimentado pelas paixões que estimulam o ódio.
Aqui e acolá tenho me surpreendido com reações oriundas de pessoas as quais ponho na conta de bons amigos, verbalizando suas insatisfações com minhas opiniões. Isso não seria desagradável, se a divergência fosse posta de forma civilizada. Entretanto o que tenho verificado, com imensa tristeza, é que o ranço político conduz o discordante a atitudes de ataques, ironia e hostilidades. Não consigo conceber que as amizades verdadeiras sejam estragadas pela política. Tenho dificuldade em aceitar que as diferenças de pensamento político possam dar causa a esfriamento de amizades ou rompimento de companheirismo.
Por isso, mesmo continuando a emitir minhas opiniões sobre política, não me colocarei no confronto radical com quem quer que seja, quando colocado em campo contrário ao meu. Principalmente quando se tratar de alguém que desejo preservar a amizade e continuar depositando meu sentimento de apreço, consideração e respeito. A política não me conduzirá a construir inimizades.
Rui Leitão é jornalista e escritor