Há semanas ele achou
um cantinho pra morar
sem poder chamar de seu.
Mesmo assim lá se aninhou
decidindo adotá-lo.
Um tanto descuidado,
consigo e com o lugar,
age como se quisesse
mostrar que não se importa,
vez que a vida não cuidou
nem um pouco dele próprio.
É um canto de terraço
de uma casa de verão.
Com os dias veio o lixo,
que aumenta em seu redor.
Deitado, abandonado,
pensativo ele olha
o tempo com lembranças
que lhe devem ser cruéis.
Às vezes sai andando,
lentamente, cabisbaixo,
com destino ignorado.
Pouco mais, lá se avista,
de volta ao chão duro.
À noite, não há luz,
nem TV, nem celular.
Só o silêncio o acompanha
mesmo em noite de luar.
Quando a lua se esconde,
solidão e vaga-lumes
se exibem de mãos dadas.
Não fosse a tristeza
que destaca a silhueta
do cenário absurdo,
haveria alegria
em olhar aquelas luzes
voejando à sua frente.
Ainda mais quando se sabe
que são raras hoje em dia,
embora no contexto
não exista emoção,
magia nem poesia.
Que destino ou circunstâncias
o levaram a se esquivar
da vida de outrora,
se é que já viveu?
Quem seria a família
ou alguém de seu convívio?
Há tantos que ignoram,
ou sequer viram um sorriso
do pai, e até da mãe…
Dia e noite se revezam,
e a cena é a mesma.
No chão o tempo todo,
o olhar também se deita.
Se vê longe, não se sabe.
Mas de longe se imagina
a tristeza bem possível
que há em seu semblante.
um cantinho pra morar
sem poder chamar de seu.
Mesmo assim lá se aninhou
decidindo adotá-lo.
Um tanto descuidado,
consigo e com o lugar,
age como se quisesse
mostrar que não se importa,
vez que a vida não cuidou
nem um pouco dele próprio.
É um canto de terraço
de uma casa de verão.
Com os dias veio o lixo,
que aumenta em seu redor.
Deitado, abandonado,
pensativo ele olha
o tempo com lembranças
que lhe devem ser cruéis.
Às vezes sai andando,
lentamente, cabisbaixo,
com destino ignorado.
Pouco mais, lá se avista,
de volta ao chão duro.
À noite, não há luz,
nem TV, nem celular.
Só o silêncio o acompanha
mesmo em noite de luar.
Quando a lua se esconde,
solidão e vaga-lumes
se exibem de mãos dadas.
Não fosse a tristeza
que destaca a silhueta
do cenário absurdo,
haveria alegria
em olhar aquelas luzes
voejando à sua frente.
Ainda mais quando se sabe
que são raras hoje em dia,
embora no contexto
não exista emoção,
magia nem poesia.
Que destino ou circunstâncias
o levaram a se esquivar
da vida de outrora,
se é que já viveu?
Quem seria a família
ou alguém de seu convívio?
Há tantos que ignoram,
ou sequer viram um sorriso
do pai, e até da mãe…
Dia e noite se revezam,
e a cena é a mesma.
No chão o tempo todo,
o olhar também se deita.
Se vê longe, não se sabe.
Mas de longe se imagina
a tristeza bem possível
que há em seu semblante.
Certo dia um dos vizinhos
do terraço que o acolheu
por lá apareceu.
Estranhou sua presença
e a cena inusitada.
Abordou-o autoritário
ordenando que se fosse
dali de imediato.
Nem deu tempo de ajuntar
o que não lhe pertencia,
pois o verbo possuir
há muito se ausentou
da penosa existência.
Nem à vida é possível
referir como um pertence.
E em direção ao mar,
sumiu por entre a relva
a se perder de vista,
durante alguns dias.
Ninguém podia supor
que ousasse retornar.
A presença indesejável
ficou claramente expressa
na maneira sob a qual
foi expulso sem conversa.
Nem por lá algo ficou
que pudesse interessá-lo.
Mas o chão do terracinho
não saía da lembrança.
Ainda que arriscada
a ideia de voltar,
e ali se recolher
novamente à solidão,
resolveu averiguar.
Na manhã que se seguiu,
foi visto lá prostrado.
Não se sabe em que pensava,
mas é certo que pensava.
Quando o olhar no chão se foca
é porque a imaginação
sem qualquer perspectiva
não consegue se ausentar.
E o que aquele corpo,
desnutrido e sem morada,
ganharia se a mente pudesse levitar?...
Embora o mar tão perto
parecia oferecer
algum tipo de esperança,
entoando seu marulho,
ele apenas desejava
calá-lo para sempre.
Assim continuou
vivendo sem morar.
Decerto doem-lhe os ossos
na dureza do ladrilho.
Decerto fecha os olhos
pra não ver os vaga-lumes.
Assim como este mundo,
insensível e indiferente,
permanece surdo e cego
a tudo que revela
o que fez pela injustiça.
do terraço que o acolheu
por lá apareceu.
Estranhou sua presença
e a cena inusitada.
Abordou-o autoritário
ordenando que se fosse
dali de imediato.
Nem deu tempo de ajuntar
o que não lhe pertencia,
pois o verbo possuir
há muito se ausentou
da penosa existência.
Nem à vida é possível
referir como um pertence.
E em direção ao mar,
sumiu por entre a relva
a se perder de vista,
durante alguns dias.
Ninguém podia supor
que ousasse retornar.
A presença indesejável
ficou claramente expressa
na maneira sob a qual
foi expulso sem conversa.
Nem por lá algo ficou
que pudesse interessá-lo.
Mas o chão do terracinho
não saía da lembrança.
Ainda que arriscada
a ideia de voltar,
e ali se recolher
novamente à solidão,
resolveu averiguar.
Na manhã que se seguiu,
foi visto lá prostrado.
Não se sabe em que pensava,
mas é certo que pensava.
Quando o olhar no chão se foca
é porque a imaginação
sem qualquer perspectiva
não consegue se ausentar.
E o que aquele corpo,
desnutrido e sem morada,
ganharia se a mente pudesse levitar?...
Embora o mar tão perto
parecia oferecer
algum tipo de esperança,
entoando seu marulho,
ele apenas desejava
calá-lo para sempre.
Assim continuou
vivendo sem morar.
Decerto doem-lhe os ossos
na dureza do ladrilho.
Decerto fecha os olhos
pra não ver os vaga-lumes.
Assim como este mundo,
insensível e indiferente,
permanece surdo e cego
a tudo que revela
o que fez pela injustiça.
Germano Romero é arquiteto e bacharel em música