É muito comum nos despedirmos numa comunicação escrita ou quando estamos falando com alguém à distância, enviando um abraço. Fazemos isso porque entendemos a importância desse gesto simples representando atenção, afeto, consideração. O abraço, em todas as circunstâncias, tem um efeito terapêutico. É uma atitude carregada de sentimentos e emoções. Compartilha alegrias, comemora solidariamente as conquistas, festeja os acontecimentos felizes. Mas também transmite conforto nos instantes de dor, sofrimento, decepções, tristezas.
O abraço, na manifestação sincera e espontânea, traz uma carga de amor fraterno, com poderes de transformação no nosso estado de espírito. Após um abraço sentimo-nos outro. Por meio dele percebemos que não estamos sós, nem nas ocasiões de contentamento nem (principalmente) nas situações de dificuldades e desânimo.
Estou refletindo sobre o abraço afetivo, cheio de sentimento, não o que se dá por convenção social, frio, formal, numa saudação de chegada ou de despedida em encontros fortuitos. Quero falar do abraço que traz intensidade no encontro de corpos. O enlaçamento dos braços entre duas pessoas que se gostam, configura-se uma comunicação íntima de carinho, de respeito, de comunhão de sentimentos.
Não é de se estranhar que as relações sexuais se iniciem com um abraço, porque é o momento em que o amor, a paixão sentida um pelo outro, desperta a libido, potencializa os desejos, constrói o ritual dos prazeres da sensualidade. No abraço de enamorados tem que ter “pegada”, química, toque mágico de pele.
O abraço, portanto, só nos faz bem, tanto quando oferecemos, quanto ao recebê-lo. Não há forma mais afirmativa de expor companheirismo, cumplicidade, adesão, aconchego, conforto, proteção, do que o ato de abraçar alguém.
A pandemia do coronavírus tem impedido, temporariamente, praticarmos esse gesto tão importante nas manifestações de amizade, amor, solidariedade, felicidade e compaixão. Estamos vivendo o sentimento da saudade dos abraços. O isolamento social que estamos obrigados a cumprir está fazendo com que aprendamos a valorizar esse gesto simples, mas tão reconfortante. Quando tudo isso passar, estejamos preparados para repeti-lo quantas vezes for possível. Confesso que estou ansioso para poder voltar a dar abraços apertados nas pessoas que amo e tenho apreço.
Rui Leitão é jornalista e escritor