Ela estava sentada e colocaram várias toalhas sobre suas costas para que os filhos pudessem se despedir, com um abraço. Seria o último, mas eles não sabiam disso. Eram pequenos demais para entender que não existia nem cura nem vacina para a tuberculose. Era início dos anos 1940. A doença era romantizada porque os artistas foram grandes vítimas. Ficavam sem comer para comprar tintas e telas, e adoeciam.
Diziam, na família, que ela ficava sem comer para emagrecer, e se mostrar mais bonita para o marido. Já era linda, com seus cabelos vermelhos e sorriso largo. Teve sete filhos, o mais velho estava com dez anos e a mais nova, uma menina, tinha apenas seis meses.
Existia uma mitologia da tuberculose. A doença incurável atacava os decepcionados com o amor, os boêmios, os que descuidavam de si por alguém ou um por um ideal. Foi tema para inúmeros poetas. Muitos, doentes, sentiram no corpo o que transformaram em versos. Os tísicos, magros, apaixonados, entregues para a morte romantizada.
Na reclusão da pandemia de 2020 volto meus pensamentos também para o menino de dez anos, seu filho. O maior terror aconteceu a ti, que é perder a mãe. O quanto necessitou-a, desejou sua presença, e toda a sua vida passou, sem ela a te guiar.
Depois da despedida, ela foi levada a um sanatório para tuberculosos, em Minas Gerais. E lá ficou. A esperança estava de mãos dadas ao isolamento e a um clima ameno.
Imagino seus últimos meses, sozinha com seus pensamentos e medos de uma jovem com apenas trinta e seis anos... Com certeza pensou na morte e no que sua falta provocaria nos seus filhos. Não deve ter imaginado que esse drama tocaria no coração de netos e bisnetos.
Rosa Aguiar é mestre em comunicação e jornalista