Vivemos um novo velho mundo sem volta. E, definitivamente, não há retorno à nossa aldeia global, para lembrar o filósofo canadense Marshall McLuhan. Um passo atrás é mais que retrocesso, é abrir mão de tudo que a humanidade construiu durante séculos. Isso não é opção, é rendição. Seria o mesmo que se fechar numa concha, dar as costas à vida e voltar-se para dentro da caverna descrita pelo também filósofo, o grego Platão, com o agravante de já termos visto a realidade fora daquele lugar escuro.

Exemplos? A rapidez do alastramento do coronavírus pode ser o melhor e mais recente. O vírus surgido na China (poderia ser em qualquer outro país) levou poucas semanas para embarcar em criações humanas e chegar a todos os continentes. Viajou milhares de quilômetros para desembarcar violentamente e sacudir todo o planeta.
Do mesmo modo, as técnicas e esforços para lutar contra essa novidade seguiram seus passos. Humanos dos mais diversos países, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, mas interligados pelas inovações globalizadoras, debruçaram-se sobre o problema para encontrar técnicas de tratamento, caminhos para bloquear o seu avanço, pela busca de vacinas e antídotos com o objetivo de vencer o coronavírus. E isso mesmo antes da doença ultrapassar as fronteiras chinesas.

O alastramento do problema e da busca por soluções são assombrosos exemplos de quão pequeno tornou-se o mundo. E isso significa fragilidade e força ao mesmo tempo.
O pequeno grande mundo traz vantagens e responsabilidades. E para se livrar do preço que a humanidade tem a pagar não é possível negar que o inóspito é cada vez mais raro, que está em extinção, ou embarcar em teorias malucas como insistir que a Terra é plana. Não há máquina do tempo para voltar à Idade Média. E isso não seria uma vantagem.
Se queremos manter o planeta minimamente habitável, é imperioso atentar para responsabilidade individuais. E pensar no coletivo é ir além de perceber os vizinhos, os que vivem na mesma rua ou bairro ou cidade. Essas fronteiras foram ultrapassadas já há um bom tempo. Claro, guardadas as nossas particularidades de seres de micro mundos, devemos entender que integramos um macro mundo.
Já não é mais possível abdicar do título de cidadão do Planeta Terra. Independente da cor, da raça, da religião, opção sexual, fazermos parte da mesma nave redonda vagando pelo universo. Somos pilotos e mecânicos desse globo azul admirável. Se ele quebrar, literalmente será o nosso fim.
O ser humano precisa deixar de ser egoísta. Antes de qualquer coisa, somos terráqueos. O mundo é cada vez menor e sua imensidão bate com maior velocidade à nossa porta.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista