"Celso Furtado é um dos paraibanos mais notáveis do mundo e que mais se destacaram fora do país. Seria o que alguns europeus são para muitos de nós...”, esse foi o início de uma conversa na Livraria do Luiz, um bate papo liderado pelo grande cronista Gonzaga Rodrigues, que nos emprestava um pouco de sua sabedoria e experiência em mais um encontro sabático de quando podíamos nos encontrar.
Sempre foi muito prazeroso poder descer o planalto da Borborema e saborear a manhã de sábado na Livraria do Luiz. Não só por ser leitor, bibliófilo, apaixonado por livros e amante daquele cheirinho de papel impresso, e sim pelo encontro de leitores, escritores e intelectuais que se tornou tradição na capital paraibana.
A galeria Augusto dos Anjos – onde repousa a livraria – é uma Meca para onde se dirigem aficionados pelas letras e artes. Lugar de encontrar amigos e fazer novas amizades, espaço de sociabilidade que ganhou uma agudeza de significados imensa no âmago do centro histórico. Não perdi uma oportunidade de ali estar. Sinto-me verdadeiramente em casa. "Eu fui um dos primeiros a entrevistá-lo aqui na Paraíba", continuou Gonzaga Rodrigues suas elucubrações sobre o economista pombalense, que foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX.
Muito bem-humorado, Gonzaga disse que foi apresentado vinte e três vezes a Celso Furtado e em todas as vezes ele respondeu: “Muito prazer!”.
Com gestos a balançar as mãos junto ao rosto e seu habitual e terno sorriso, Gonzaga completou: “Rapaz... meu sonho era ouvi-lo dizer: Gonzaga, vem cá rapaz (risos); não lembrou de mim uma só vez, já pensou?”. Todos riram! Nos acompanhavam no bate papo Políbio Alves, Flávio Sátiro Fernandes, Luiz Augusto Paiva, Waldir Porfírio, Paulinho Emmanuel, José Nunes, Gilmar Leite, José Ronald e Milton Marques.
Na mesa principal, a távola redonda, o passado e o presente se misturam. Experiências são mescladas a leituras (antigas e novas) de mundo numa composição azeitada pelo cotidiano de nossas cidades avultando aspectos históricos, políticos e poéticos quer seja do Ponto de Cem Réis, ali pertinho, ou mesmo das áridas terras caririzeiras da Comarca das Pedras de Hildeberto Barbosa Filho. Para mim, lugar de puro aprendizado. Continuou a prosa o amigo Milton Marques, que discorreu sobre o poeta Augusto dos Anjos, trazendo minúcias justificando a genialidade de sua obra até chegar a um consenso de que se o poeta do ‘Eu’ fosse escrito em outra língua (poderia até ser o espanhol, afirmou Gonzaga), certamente Augusto seria muito maior do que é, ganhando notoriedade internacional.
Nesta manhã também discutimos a importância do jornal impresso nos dias de hoje e os rumos desta publicação. Ora, como é que um suporte que possui credibilidade de quase 90% em detrimento ao que é publicado online, não tem como se sustentar? Tem sim, mas o jornal deve se reinventar, trazer não só a notícia, mas uma matéria analítica, profunda a respeito de determinados temas. O jornal Diário de Pernambuco é referência nesse quesito. Aliás, desde dezembro de dezoito que não recebemos mais nem em Campina Grande nem em João Pessoa este jornal pernambucano, estamos cada vez mais isolados no que se refere aos jornais impressos de fora do estado. As horas passaram, alguns chegaran, outros foram embora e a conversa continuou.
O sábado e sua aura, seu fulgor libertário causa uma avalanche sentimental e poética opulenta de boas inspirações. Depois dessa pandemia, certamente, suas manhãs voltarão a ficar ainda mais coloridas na livraria do Luiz onde mentes e corações sempre se encontraram.
Thomas Bruno Oliveira é mestre em história e jornalista