Crepúsculo Um majestoso tapete vermelho Se estende pelo céu Sobre retalhos de azul. Tão belas as coisas de Deus! A tarde se despede ...

Cores e murmúrios

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Crepúsculo


Um majestoso tapete vermelho
Se estende pelo céu
Sobre retalhos de azul.
Tão belas as coisas de Deus! A tarde se despede
Em pleno esplendor com suas cores e murmúrios.
Divago: são os anjos preparando um concerto!
Tento imaginar a beleza e a magia
Da música celestial
E me vem um enorme desejo de ter asas.
Exponho desarmada ao novo espetáculo
Meu querer. E esqueço que a noite
Tão rica de estrelas, não tem poder...


Despertar


As dores me abocanham feito cães raivosos.
Duríssimo despertar.
Espanto, espasmo, horror!

Suplício que não se mede pelo tempo comum
Um segundo só se faz eterno!

Nesse instante, o sol brilha sobre o mar
Mas a venda e as algemas...
Corte cruel da contemplação.

Até ontem olhar era verbo transitivo.
A bolha opaca encarcerou o jardim
Flores, bálsamos e perfumes.

Dentro dela, os espinhos
São como feras famintas.


Enquanto é primavera


Não há promessas.
Nas esquinas do tempo surpresas acenam
Pureza e juventude a seu favor.
Restou-me a alma anêmica
Que a hemorragia da saudade
Só mais desbotou.
Mas o orvalho da manhã será o mesmo da noite
Para que não entorpeça
A flor imaculada
E possa nascer junto com o sol
Alma-irmã, todos os dias, cintilante
Como paixão no começo.


Escrevo...


Para aceitar as vagas diárias desse mar interno
E tormentas externas desalentadoras
Como exercício de purificação.
Para entender os mesmos rabiscos
De um velho texto oculto inacabado
Carente de tradução.
Como miragem que se vê oásis no deserto
Como acalanto para sonhos suspensos
E como ritual de gratidão.
Escrevo, no entanto, em marcha inócua
Sem poder atrasar as portas do tempo
Que vão se fechando sem pedir licença
Nem perdão.


Milfa Valério é professora e poetisa

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