Originou-se de uma caixa de frutas e verduras, daquelas de madeira, com talas pregadas espaçadas nas laterais, onde são armazenadas verduras e legumes como cenouras, pimentões e chuchus, ou frutas como mangas, cajus e laranjas. Gostos variados, doces sabores ou não, alimentos para a vida, tão comuns nos mercados e feiras livres da cidade. Porém, engana-se quem a considerar uma caixa qualquer.A caixinha em questão ganhou personalidade, alma. Ela foi toda pintada de azul escuro e recebeu pinceladas que formaram bolinhas vermelhas. É uma caixa especial!
Ela fez mais um laço de tantos outros que entrelaçaram nossas vidas desde o primeiro momentoConfesso: Nunca guardei uma ferramenta ali, não as tradicionais. A caixa jamais armazenou uma Stanley, Gedore, Starret... Nem mesmo um parafuso ou simples prego, tampouco uma fita isolante, uma veda rosca ou pedaço de cano ou fio elétrico.
O motivo do imenso valor do caixote de madeira se nota pelo letreiro ornado em uma de suas laterais com imagens coladas de um martelo, um serrote e uma chave de fenda: "Ferramentas do Papai".
Armazenadas no caixote de madeira estão ferramentas mais importantes que aquelas usadas para parafusar, pregar, serrar. As peças ali depositadas são usadas para erigir outras construções, mais firmes, indestrutíveis. Pedaços de lembranças, pacotinhos de saudades, montinhos de carinhos das mãozinhas que deram um novo destino ao caixote de madeira que em algum momento foi amontoado num sábado qualquer de feira e depois de esvaziado quase foi esquecido de um canto. Mas, aleatoriamente, acabou ganhando um novo destino.
A caixa foi recondicionada com amor pela princesa que me ensinou a ser pai. Portanto, parte do meu coração está ali dentro, assim como muito do que sou, com acertos e erros. No caixote especial, resultado de uma tarefa de colégio ainda nos primeiros anos de vida que virou presente em um Dia dos Pais, ela me demonstrou um pouco do aprendizado que colheu, mas também plantou ensinamentos.
Ali, naquele caixote onde guardo até livros, equipamentos de ciclista e jogador de futebol amador e outras bugigangas, ela fez mais um laço de tantos outros que entrelaçaram nossas vidas desde o primeiro momento em que se tornou ser, de maneira impossível de serem desfeitos. Ela pintou cores de novos sentidos e sentimentos, ela me revolucionou.
A caixa "Ferramentas do Papai" não é o presente mais caro, porque seu valor é imensurável. Sou feliz por ter uma caixinha de ferramentas feita pelo melhor instrumento da minha vida.
*Para Laísa Maria de Sousa Almeida, a minha princesa Lalá, o meu maior presente.
Clóvis Roberto é jornalista e cronista